Nos abatedouros avícolas, a água é um ingrediente vital, pois possui usos diversos e valiosíssimos! No entanto, em relação à sua importância, a água é frequentemente considerada como um recurso natural gratuito e inesgotável. Mas, pelo fato de a água ser justamente o contrário disso, um recurso finito e que gera custos para ser captado, armazenado e tratado antes de ser descartado, é que as empresas de processamento avícola têm em mãos alguns excelentes motivos para, primeiro, avaliar como têm utilizado a água e, segundo, repensar seu emprego diário no abate.
A primeira etapa de um programa que vise a economizar água por meio de um uso mais racional e inteligente no decorrer dos abates diários é inteirar-se quanto aos detalhes do seu consumo. Quer dizer, saber o quanto de água é consumido e onde esse volume é consumido! Como o uso da água varia entre os diversos setores de uma planta (Tabela 1), é importante discriminar seu consumo por área. Para isso, recomenda-se a instalação de hidrômetros nas principais linhas de água que abastecem os inúmeros setores. Esses hidrômetros permitirão, inicialmente, aferir o uso da água ao longo de um determinado período de tempo, com o intuito de tornar o mais claro possível o perfil de consumo. Uma vez analisado o consumo em cada setor, os hidrômetros propiciarão quantificar a economia obtida quanto tiverem sido implantadas as medidas de racionalização do uso de água.
A segunda etapa consiste na medição da pressão em cada uma das principais tubulações de água que abastecem a planta, dado que a pressão hidráulica está diretamente relacionada ao consumo. Se a pressão for maior que 40 ou 50 psi em toda a extensão da planta, especialistas recomendam que seja diminuída por meio de redutores de pressão, que devem ser instalados nessas tubulações. Contudo, para evitar problemas operacionais, ou até mesmo durante vistorias, seja de órgãos governamentais reguladores, de clientes ou de outros visitantes, é recomendável fazer essa redução com reduções de 3 a 5 psi de cada vez, em intervalos de 2 semanas, distribuídos ao longo de 2 a 3 meses.
SETORES | CONSUMO (% do total) |
Recebimento | 1,88 |
Escalda | 21,43 |
Depena | 6,40 |
Evisceração | 43,17 |
Resfriamento | 21,06 |
Higienização | 3,84 |
Subtotal | 97,78 |
Sanitização | 1,02 |
Circulação de ar | 0,60 |
Comedouro | 0,60 |
Total | 100,00 |
Tabela 1: Distribuição do uso de água na planta
(Fonte: Mouchrek, 2004)
A etapa seguinte consiste na realização de um mapeamento do consumo por equipamento, como o de duchas, lavadores internos e externos, lavadores de gaiolas, lavadores de caixas e bandejas e outros. Nas empresas avícolas, existe uma crença generalizada e errônea de que é o caudal, e não a pressão da água, o responsável pela eficiência operacional de cada equipamento mencionado há pouco. Portanto, as plantas equipam esses aparatos com soluções caseiras, que funcionam com alto consumo de água e baixa pressão, ao invés de utilizar boquilhas apropriadas para cada uso específico e, ao mesmo tempo, diminuir drasticamente o consumo de água.
Devido ao fato de as boquilhas aparentarem ser todas iguais aos pouco familiarizados com esse assunto, ou no caso de dúvidas sobre qual tipo escolher para os diferentes usos na planta, recomenda-se sempre buscar dicas junto ao fornecedor quanto à melhor solução para cada caso, e, assim, evitar equívocos sobre qual boquilha usar, uma vez que suas especificações – pressão de alimentação e operacional, consumo, formato do jato de água, material de fabricação etc. – são bastante amplas (Tabela 2).
Uma vez decidido qual boquilha utilizar em cada um dos diversos equipamentos, é muito importante se atentar à forma como o elas são usadas – com utilização de filtros para reter as partículas presentes na água e que podem obstruir sua saída; orientação correta em relação às superfícies que devem ser lavadas – bem como a sua manutenção e limpeza, algo que pressupõe a substituição daqueles que estiverem danificados ou desgastados pelo uso, com o intuito de garantir a realização de um bom trabalho e assegurar o racional consumo de água.
Tipo | Consumo de água | Pressão da água | Ângulo do jato d’água | Material |
1 | 66 L/min | 10 bar | 15° | Bronze |
2 | 11 | 7 | 80° | Ligas especiais |
3 | 0,4 | 10 | 120° | Ligas especiais |
4 | 34 | 10 | 120° | Bronze e aço inoxidável |
5 | 27 | 20 | 70° | Aço inoxidável endurecido |
Tabela 2: Exemplos de especificações para bocais de jato d’água com formato cônico
(Fonte: Spraying System, Co.)
A quarta etapa tem como objetivo verificar se há vazamentos de água que normalmente são pouco levados em consideração pelos funcionários da planta, apesar de serem importantes “ladrões de água”. Identifique e faça um registro dos locais dos vazamentos, fazendo um passeio completo pelo frigorifico – da plataforma de espera à área de descarga – quando o chão estiver seco. Implante um programa de manutenção para solucionar esses vazamentos. Esse tour na planta deve ser feito regularmente, pois os vazamentos podem se originar de equipamentos que foram mal instalados, da manutenção inapropriada das máquinas e de instalações, e do desgaste natural que o maquinário sofre.
A experiência tem demonstrado que o consumo de água nos abatedouros avícolas varia de planta para planta, e de país para país, em virtude de práticas e regulações específicas de cada um deles. A experiência também revela que, no geral, o uso consciente de água não figura entre as prioridades das empresas avícolas. Essa conclusão se baseia no fato de que, embora em muitas dessas plantas o consumo de água apareça entre os indicadores operacionais monitorados diariamente, isso frequentemente não se traduz em ações mais consistentes e amplas, como a implantação de um programa de economia de água que abarque toda a planta, ou, até mesmo, toda a empresa. Esse tipo de programa tem um retorno imediato! Pensemos nisso e comecemos a mudar a realidade dos abatedouros em relação ao uso desse líquido precioso, a água
Carnetec
Por Fabio Nunes