Projeto de pesquisa realizado em parceria entre Embrapa e Bayer vai estudar as relações entre os insetos polinizadores e os sistemas de produção de soja. Com duração de cinco anos, o trabalho vai contemplar cinco grandes frentes de pesquisa e deve elevar o conhecimento científico atualmente disponível sobre a relação de uma das principais culturas agrícolas mundiais. Entre as atividades previstas está a captura de substâncias voláteis (aromas), que atraem ou repelem os insetos, e a relação entre esses polinizadores e a produtividade da leguminosa.
“É um projeto com grande relevância científica mundial. O tema ainda é pouco estudado e pode nos surpreender positivamente, abrindo oportunidades tecnológicas muito interessantes para os sistemas de produção de soja”, explica Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja (PR) e líder do projeto.
Entre as linhas de pesquisas previstas estão: o mapeamento dos hábitos dos insetos polinizadores nas lavouras de soja e o impacto dos inseticidas sobre as colônias bem como estratégias para reduzir e minimizar os riscos. “Precisamos entender bem o comportamento desses insetos nas lavouras e, para isso, vamos fazer os levantamentos em seis importantes regiões produtoras. Com conhecimento aprofundado, podemos formular as estratégias que aliam o controle de pragas com o mínimo de impacto sobre os polinizadores”, diz Gazzoni
Atualmente, a ciência já sabe que as plantas “conversam” entre si e com os insetos por meio de substâncias voláteis. Além de conhecer e descrever cientificamente a situação atual dos polinizadores nas lavouras de soja, um trabalho de pesquisa precursor vai procurar entender como os compostos voláteis emitidos pelas plantas de soja exercem atratividade ou repelência sobre os polinizadores. Essas descobertas abrem caminhos para novas pesquisas em melhoramento genético. “É uma linha de pesquisa baseada na ecologia química, que usa técnicas modernas para mapear compostos voláteis, os quais podem estar ativos na comunicação entre a flor de soja e os insetos. Uma das hipóteses com a qual trabalhamos é a de que a presença de insetos polinizadores poderia complementar a fecundação das flores da soja, aumentando sua produtividade”.
A primeira etapa da pesquisa prevê a captura desses voláteis do ar, por meio de equipamentos sugadores ultrassensíveis. Parte dos equipamentos foi adquirida e alguns ainda estão sendo adaptados com ponteiras e receptores capazes de sugar o ar e filtrar somente as moléculas que serão estudadas. “Queremos entender quais substâncias são essas, estabelecer o perfil químico delas, em que condições esses voláteis são emitidos pelas plantas e capturados pelos insetos. As flores, por exemplo, variam a emissão desses voláteis ao longo do dia, conforme a temperatura e a umidade. Queremos identificar que reações acontecem e como as abelhas reagem a essas alterações”, conta o pesquisador.
Outra etapa da pesquisa prevê estudar as abelhas. Por meio de equipamentos específicos, é possível avaliar se as abelhas estão sendo atraídas ou repelidas pelas plantas. Se a presença desses insetos estiver relacionada à produtividade da soja, por exemplo, serão desenvolvidos meios de atraí-los aos campos de soja segundo detalha Gazzoni: “por meio do melhoramento genético poderemos introduzir características nas plantas para atraírem mais abelhas ou usar as informações disponíveis em programas de manejo de pragas”, planeja.
Em outra frente de pesquisa, a Embrapa vai estudar a relação entre a diversidade de abelhas domésticas e nativas, o tamanho da população e sua relação com a produtividade de soja. “O objetivo é estabelecer a relação entre a diversidade de abelhas e a produtividade da soja”, detalha Gazzoni. Também serão avaliados os atuais materiais genéticos da Embrapa e da Bayer para resistência a percevejos, cujo objetivo final é reduzir o uso de agrotóxicos no controle dessas pragas, resultando em menor impacto sobre os polinizadores.
O estudo também prevê a produção de livros sobre o tema. Um deles detalhará a relação entre soja e abelhas; outro vai descrever as plantas que podem ser importantes alternativas para atrair e proteger os insetos polinizadores. Com a aprovação do projeto, a Embrapa vai ampliar a rede de pesquisa, envolvendo outras instituições nacionais.
“Na Bayer somos movidos pelo compromisso com a pesquisa para melhorarmos nossa compreensão a respeito da saúde desses importantes insetos que contribuem para a polinização de diferentes cultivos. Entendemos que os polinizadores são essenciais para a sustentabilidade da agricultura. Essa parceria com a Embrapa vai nos ajudar no desenvolvimento de novos estudos para a realidade brasileira”, afirma Bernard Jacqmin, diretor de Desenvolvimento Agronômico da Bayer na América Latina.
Entendendo a relação entre insetos e plantas
Enquanto os seres humanos se comunicam por palavras e gestos, por exemplo, os insetos vivem em um complexo mundo de estímulos químicos que afetam seu comportamento. Os sinais que permitem a comunicação entre os insetos são chamados de semioquímicos, substâncias químicas voláteis que podem ser usadas na interação entre indivíduos de uma mesma espécie (feromônios) ou entre espécies diferentes (aleloquímicos).
Os feromônios ditam comportamento sexual, marcação de território, alarme e reconhecimento. Os insetos são extremamente sensíveis aos feromônios, tanto que um milionésimo de micrograma expelido por uma fêmea é suficiente para atrair um macho a longas distâncias. Por sua vez, a liberação de aleloquímico ocorre em situação de estresse, quando o inseto libera um odor para repelir predadores. A Ecologia Química é a ciência que há aproximadamente 40 anos vem estudando essas interações.
O projeto de pesquisa entre a Embrapa e a Bayer visa buscar respostas sobre as relações entre os insetos polinizadores e a cultura da soja. O pesquisador da Embrapa Soja Décio Gazzoni explica que o projeto pretende identificar quais voláteis estão presentes no relacionamento entre as plantas de soja e os polinizadores, qual a composição química dessas substâncias, além de verificar que ação determinado volátil emitido pela planta deflagra no inseto ou o contrário. “Queremos entender a atratividade e mesmo eventuais fatores de repelência que existem entre soja e abelhas para usar o conhecimento na melhoria da soja e da preservação dos polinizadores”, explica Gazzoni.
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