O Brasil tem potencial para expandir e chegar a 61 milhões de hectares de terras irrigadas, o equivalente a 10 vezes a área atual
É o que aponta a pesquisa Análise Territorial no Brasil para o Desenvolvimento da Agricultura Irrigada desenvolvida pelos professores Gerd Sparovek e Durval Dourado Neto, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, em parceria com o Ministério da Integração Nacional (MI).
O estudo analisou 168.843 mil bacias hidrográficas do país, contendo cerca de cinco mil hectares cada, e levou em conta contextos de governança pública e privada e dimensão física (vazão de rios, regime natural de chuvas e produtividade agrícola), em combinação com temas ambientais, sociais e econômicos.
A pesquisa avaliou que 37% dos 6,1 milhões de hectares de área irrigada atual não contam com possibilidade de expansão devido ao esgotamento da água disponível e 44% é de regiões com possibilidade de desenvolvimento, mas que estão fora de áreas com possibilidade de intervenção pública, as quais representam apenas 19%.
Segundo Dourado Neto, a definição da área com potencial para ser irrigada traz um fato novo, já que segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil possui 29 milhões de hectares irrigáveis, ou seja, a pesquisa coordenada pelos professores da Esalq indica um número bem superior.
O pioneirismo do estudo, segundo Sparovek, se dá pela abrangência e olhar metodológico, apresentando os resultados dos temas tratados por meio de chaves classificatórias que podem ser entendidas por pessoas não especializadas no assunto.
“Há uma deficiência de estudos multitemáticos e abrangentes que ajudem o entendimento dos problemas recorrentes da distribuição geográfica da área atualmente irrigada, mas conseguimos tratar do tema incluindo recentes avanços na área metodológica, a disponibilidade de água, condições climáticas, qualidade dos solos e realidade social e econômica do país”.
Além disso, conhecer a ordem de grandeza dos solos irrigáveis trarão, segundo o professor, mais qualidade de vida para as pessoas. “Isso norteará políticas públicas nessa área daqui para diante. Se podemos aumentar os hectares irrigados, precisaremos investir em infraestrutura, estradas, gerar energia, ou seja, dar condições para chegarmos a esse valor no futuro. Só há condição de preservar e melhorar a qualidade de vida onde temos agricultura irrigada. Portanto, se já sabemos quanto podemos avançar, estamos dando subsídios para que o governo faça um planejamento de longo prazo”.
Potencial de crescimento
Hoje, a área irrigada do Brasil é considerada pequena, comparada ao seu potencial de crescimento. “São diversos os benefícios que podem ser alcançados com essa expansão, como o ganho de eficiência e redução de risco de insucesso na produção agrícola, a promoção do desenvolvimento social e econômico em regiões propícias à intensificação da produção, a redução de impactos ambientais pela menor necessidade de expansão face à maior produtividade com os cultivos irrigados e a segurança alimentar”, afirmou Sparovek.
O estudo foi incluído no Plano Nacional de Irrigação, por meio da Portaria nº 115, de 18 de junho de 2015, publicada no Diário Oficial da União. A partir dessa definição, os projetos públicos que envolvem o tema deverão ser planejados e implantados conforme o relatório da pesquisa.
Em outubro, o diretor da Esalq, professor Luiz Gustavo Nussio, junto com o vice-diretor, professor Durval Dourado Neto, estiveram no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Brasília, para uma reunião com a ministra Kátia Abreu. Na oportunidade, apresentaram o estudo à ministra e membros do Mapa.
Segundo o professor Nussio, a apresentação faz parte de uma ação da diretoria em buscar projetos na área institucional que atendam demandas nacionais. “Conseguimos um grande avanço nesse aspecto, com a reunião no Mapa, colocando a Esalq à disposição para projetos futuros”, afirmou.
O diretor ressaltou, ainda, que a atividade está alinhada às metas da Reitoria da USP em fazer com que as Unidades se dediquem mais a estudos em consonância com as políticas públicas e com as demandas da sociedade. “É uma maneira de fazer as equipes trabalharem de forma mais integrada, com ações mais abrangentes”.
Para Dourado Neto, o encontro no Mapa foi importante uma vez que possibilita a Esalq atender demandas sociais emergentes. “É muito importante que a universidade, além de formar alunos, atenda demandas de extensão como essa. Para que haja preservação ambiental e justiça social, temos que gerar e distribuir riquezas, ou seja, acumular capital e propiciar desenvolvimento”.
Finalizando, Dourado Neto contou que a ministra Katia Abreu pretende elaborar um projeto com base nesse levantamento para que o Brasil irrigue, a curto prazo, mais 1,5 milhão de hectares e, a médio prazo, 5 milhões de hectares. “Este estudo direcionará os investimentos nesse setor, principalmente em redes de energia que viabilizem os sistemas de irrigação”.
Alessandra Postali e Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq