Ferramenta funciona de forma similar às negociações a futuro na bolsa, porém o frigorífico assume a burocracia da transação
Essa ferramenta funciona de forma similar às negociações a futuro na bolsa de valores, porém o frigorífico assume toda a parte burocrática da transação. O produtor apenas procura a empresa, negocia seus animais em qualquer momento, fecha um acordo de compra e venda, a data e a quantidade de arrobas que serão entregues. O valor de venda pode ou não ser travado no ato do contrato, com base nas cotações do mercado futuro. Dessa forma, o pecuarista consegue garantir o valor que receberá na data acordada, sem se preocupar com as oscilações de preços nesse período.
Diferentemente do que acontece na bolsa, porém, o pecuarista não precisa ter fluxo de caixa para cobrir os chamados “ajustes diários”, diferença a mais entre o preço fixado e o vigente na bolsa. Vale lembrar que para usar a ferramenta e travar um preço remunerador é necessário ter na ponta do lápis todos os custos de produção. A modalidade foi lançada no Brasil em 2004 pelo JBS. Atualmente, estima-se que os contratos a termo sejam responsáveis pelo abate de 2,2 milhões de cabeças por ano.
Abrindo espaço – Por garantir preços de venda que possibilitem boas margens de lucro, a modalidade é muito usada por confinadores, mas, ultimamente, também tem ganhado espaço junto a produtores de boi a pasto, especialmente os que trabalham com semiconfinamento.
De acordo com Leandro Testa, diretor de Novos Canais de Originação da JBS, cerca de 80% dos clientes a termo são confinadores. “Antes da ferramenta, os confinadores tinham uma janela muito estreita para comercializar seus animais e ficavam inseguros quanto a eventuais quedas no preço da arroba abaixo do custo de produção”, afirma Testa, acrescentando que o boi a termo é responsável por 15% do abate nacional da empresa, o equivalente a 1,3 milhão de contratos.
Outro frigorífico que faz uso do boi a termo é o Minerva, que adotou a ferramenta em 2007. Segundo Michel Torelli, gerente de boi a termo do frigorífico, os contratos da categoria representam 40% do total de abates da companhia. “Hoje o perfil está muito pulverizado. Temos muitos clientes que fazem semiconfinamento, incluindo pequenos e médios produtores. É uma ferramenta de gestão de risco que está à disposição de todos”.
O Marfrig, que também opera nesta modalidade, foi procurado pela reportagem do Portal DBO mas não pode se pronunciar em função da lei do silêncio em vigor até o dia 29 de fevereiro, quando a empresa divulgará seu balanço anual.
Tipos de negócios – Existem diversas modalidades de boi a termo, que variam de frigorífico para frigorífico. Para se ter ideia, o JBS, pioneiro do ramo, chega a ter cinco tipos diferentes de operações. Os tipos de negócios mais comuns entre as empresas do setor são os contratos convencionais e o de garantia de preço mínimo.
Na primeira operação, as partes chegam a um acordo com base no indicador Cepea/Esalq da região para a data escolhida. No dia do abate, independentemente da variação no preço da arroba, o produtor recebe o valor acordado. Em outra modalidade, o pecuarista pode fixar o diferencial de base, ou seja, a diferença entre o preço praticado em São Paulo (indicador usado para as transações a futuro) e o preço praticado na praça da unidade de entrega dos animais.
Já na modalidade de preço mínimo, o produtor estipula um valor mínimo da arroba para receber no dia do abate dos animais. Neste caso, ele deve pagar por um seguro que varia de acordo com o valor estipulado. O pagamento só é feito após o pecuarista já ter recebido pelos animais abatidos. No dia da entrega, se o valor de mercado estiver acima do fixado no contrato, ele recebe o valor de mercado. Agora, se a arroba estiver abaixo do preço que ele escolheu, recebe o preço mínimo fechado com o frigorífico. Por exemplo, se ele negociou a arroba a R$ 140 e, no dia do abate, o mercado está praticando R$ 130, ele recebe os R$ 140 garantidos pelo seguro. Agora, se a arroba estiver em R$ 150 no mercado físico, ele recebe esse valor.