A grave crise econômica monopoliza, como tem que ser, o noticiário nacional. Orçamento público, taxa de juros, swaps, contas externas, taxa de inflação, ajuste fiscal, etc. são termos que ganham espaço nos debates sociais como há muito tempo não víamos. Discutem-se acaloradamente as mais diversas formas de saída da crise e as ferramentas disponíveis em termos de política econômica para enfrentar a profunda recessão. Quais as ações de curto prazo necessárias para ancorar expectativas de investimento e quais ações estruturais irremediáveis para criar um novo ciclo de desenvolvimento de longo prazo e fazer com que a nau chamada Brasil possa navegar novamente.
É uníssono entre os especialistas que existem necessidades de ajustes emergenciais de curto prazo para tornar mais suave à mudança no modelo de desenvolvimento após o fracasso do que ficou conhecido como "Nova Matriz Econômica" e ainda mais consensual é a urgente necessidade de se criar um caminho bem pavimentado e estável para o crescimento sustentado e endógeno no longo prazo.
O que parece ser lugar comum em todas as análises feitas sobre a construção de um projeto de longo prazo é a urgência em se construir um ambiente de negócios, com mudanças intensas tanto na macroeconomia quanto na microeconomia, afeito ao empreendedorismo, a inovação e ao aumento estrutural da competitividade. Essas variáveis definiriam o grau e forma da inserção das empresas nacionais nas grandes cadeias globais de valor, considerando que parte integrante e central da estratégia de construção de um novo ciclo de desenvolvimento de longo prazo seja a maior abertura da economia nacional ao resto do mundo, redirecionando o modelo mais fechado predominante nos últimos anos.
Isso posto, a consolidação de um ambiente nacional eficiente para a inovação e o empreendedorismo que promova as interações necessárias entre seus atores (empresas, governos, institutos de pesquisa, universidades, etc.) se torna cada vez mais importantes no contexto da chamada "economia do conhecimento" e da crescente competição na arena global, principalmente em mercados de intensa complexidade tecnológica os quais o país precisa ser mais competitivo. Essa realidade impõe às empresas nacionais a necessidade de construir alianças estratégicas ou arranjos cooperativos para alavancar o desenvolvimento de tecnologias, produtos e processos inovadores.
De modo geral, as alianças estratégicas se constroem para reduzir os custos tecnológicos, mitigar os riscos de desenvolvimento, alcançar economias de escala, diminuir o espaço temporal entre o desenvolvimento de um novo produto e sua comercialização e promover aprendizagem compartilhada em função de plataformas tecnológicas convergentes, aumentando a capacidade competitiva das empresas.
É fato que cooperar e estabelecer alianças são grandes desafios para as empresas, pois a interação com culturas organizacionais diferentes, missões, visões diversas e perda relativa da autonomia na gestão dos projetos cooperados podem significar o fracasso desses arranjos e desperdício de tempo.
No entanto, como já elencado acima, o ambiente de evolução tecnológico acelerado impõe está preparado para interagir com as fontes externas nacionais e internacionais, pois não é possível às empresas, a custo da própria sobrevivência, tornar-se uma "ilha tecnológica", principalmente numa economia globalizada. No longo prazo, como variável essencial para o desenvolvimento, esperamos que o Estado brasileiro seja capaz de redirecionar seu modelo e promover o ambiente para que nossas empresas não virem "ilhas tecnológicas" com receio de enfrentar o oceano a sua frente que é a competição global.
Marcio Rogers Melo de Almeida
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