Pesquisadora utiliza dados do DNA dos animais para aprimorar avaliação
Como descrever corretamente a pelagem de um cavalo? Para os veterinários acostumados a fazer essa mesma pergunta durante o preenchimento das resenhas que identificam os animais, a palestra ministrada pela professora Adalgiza Carneiro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apresentou uma alternativa para padronizar as classificações. Durante a primeira Capacitação de Médicos Veterinários do Programa Nacional de Sanidade Equídea (PNSE), realizada esta semana em Mato Grosso do Sul, Adalgiza abordou o uso de uma análise genética para determinar o tipo da pelagem equina.
Essa análise tem origem na teoria desenvolvida pela escola americana de Castle, segundo a pesquisadora. A teoria classifica os genes dos animais e determina o efeito de cada um sobre a pelagem. Dessa forma, com a presença ou a ausência dos genes no DNA, pode-se descrever a pelagem do cavalo com mais precisão. “Existem diferentes tradições de nomes de pelagens em determinadas regiões do Brasil. Por exemplo, o pessoal que vem da região sul traz uma tradição lá da argentina, do Uruguai, do Paraguai. Os animais vêm para cá com nomes diferentes de pelagens e esses nomes acabam ficando (…). Por isso, quando fiz esse trabalho, procurei padronizar a forma de nominar as pelagens dos equinos a nível nacional com uma abordagem técnica, estudando o tema a partir da genética”, diz.
De acordo com Adalgiza, os genes dos cavalos determinam que apenas duas cores de pigmentos sejam produzidas pelos animais: preto ou vermelho. Todas as cores de pelagem, portanto, são definidas a partir da interação entre esses genes. “É preciso identificar a cor do pigmento que o animal está produzindo. Com isso, o veterinário já elimina 50% dos nomes de pelagens”, afirma. Essa informação deverá fazer parte da descrição da resenha, que é um documento usado para identificar o animal. É onde o veterinário descreve informações como o nome, a idade, sexo e as particularidades da pelagem (como a cor e a direção do pelo).
“A direção do pelo do cavalo, muitas vezes, forma um redemoinho – também conhecido como rodopio – em determinadas regiões. Esse redemoinho muda de forma e lugar. Identificando a região em que ele está, é possível caracterizar esse animal na resenha, contribuindo para sua identificação (…). Também se deve descrever as marcas e sinais que os cavalos podem ter, tanto na cabeça quanto nos membros. Elas são particularidades de pelagens dadas por genes independentes, que vão fazer com que o animal tenha malhas brancas com pele despigmentada nessas regiões”, diz a pesquisadora.
Cavalo Pantaneiro
No caso da raça localmente adaptada à região do Pantanal, Adalgiza afirma que as pelagens mais comuns são a tordilha, a baia e a lobuna. “A castanha, rosilha e alazã também acontecem, mas são menos frequentes – esta última ocorre ainda menos que as outras. Mas a alazã pode aparecer porque é dada por um gene recessivo e pode estar ´escondida´ em qualquer uma dessas pelagens”. Citando tanto a variedade de cores e tonalidades quanto a rusticidade da raça, Adalgiza ressalta a importância de se valorizar a diversidade genética do cavalo Pantaneiro. “Funcionalmente, esse animal é fundamental para o Pantanal e para o trabalho da lida com o gado. Para mim, é uma das raças brasileiras mais importantes”, afirma.
Segundo a pesquisadora, a rusticidade do Pantaneiro é um atrativo para criadores e produtores rurais. Porém, para que ele seja devidamente valorizado, é preciso desassociá-lo de algumas noções pré-concebidas – como a ideia de que os animais da raça são, necessariamente, contaminados pela anemia infecciosa equina (AIE). Essa doença, causada por um vírus, não tem cura e é estudada por um projeto da Embrapa do qual Adalgiza faz parte, chamado “Anemia Infecciosa Equina no Pantanal brasileiro: caracterização do agente, diagnóstico molecular, avaliação de práticas de manejo e modelagem quantitativa”. O projeto é coordenado pela pesquisadora Márcia Furlan, da Embrapa Pantanal.
“Como a bovinocultura de corte é muito forte no Brasil, o cavalo Pantaneiro poderia estar deslanchando a nível nacional. Mas a presença da AIE pode amedrontar possíveis compradores”, conta. “A Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Pantaneiro faz um trabalho muito sério, registrando apenas cavalos negativos. Ela não aceita animais positivos dentro da raça. Quem realmente cria cavalo Pantaneiro é muito sério com relação ao controle da anemia infecciosa. Vale a pena investir nos animais sadios”.
texto e fotos
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
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