A pesquisa procura alternativas para que a cultura do algodoeiro tenha maior sustentabilidade no Cerrado, com menor utilização de defensivos químicos, redução dos custos de produção e maior rentabilidade.
Atualmente alguns produtores já aderiram ao sistema de cultivo de algodoeiro “adensado”, em que é utilizado o espaçamento entre 0,45m e 0,50m ao invés de 0,76m ou 0,90m entre linhas com o objetivo de reduzir os custos de produção. Os cotonicultores presumem que, ao usarem esse sistema, o ciclo de cultivo será reduzido de três a quatro semanas, consequentemente, minimizando os custos de produção em algumas etapas durante o ciclo da cultura. Porém, esse sistema de cultivo, em safrinha, é pouco estudado no Brasil. Severino et al (2004) ressaltam que para se utilizar a tecnologia do adensamento da população de plantas é necessário que se façam vários estudos, já que esta tecnologia precisa ser adaptada a cada região, considerando as características locais.
O rápido fechamento da copa do algodoeiro e o sombreamento da parte inferior podem ocasionar condições propícias ao desenvolvimento de doenças e pragas, principalmente se houver muita chuva na fase final do ciclo, aumentando a umidade do ar e diminuindo a temperatura. Wright et al (2008) relatam que o algodão adensado pode ter um impacto significativo sobre o manejo de insetos, porém, poucas informações estão disponíveis. Outro aspecto que deve ser estudado é quanto à aplicação de defensivos, pois devido ao rápido “fechamento” da lavoura, pode-se verificar uma maior dificuldade de penetração de inseticidas e fungicidas na hora do manejo de pragas e doenças.
Existem muitas dúvidas em relação ao plantio de algodoeiro no sistema adensado quanto à severidade das doenças que podem incidir sobre a cultura nesse sistema. Essas dúvidas ainda não estão totalmente elucidadas pela pesquisa, principalmente quando se trata do Brasil.
Portanto, objetivou-se com este trabalho avaliar a severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal em cultivo adensado, o número de aplicações necessárias para o controle químico dessa doença, bem como comparar a produtividade de algodão em caroço (arroba/hectare) dessas cultivares neste sistema.
Metodologia
O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Círculo Verde Assessoria Agronômica, em Luiz Eduardo Magalhães, Bahia. Foram avaliadas e comparadas as cultivares de algodoeiro BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal em cultivo adensado a 0,50m, quanto ao número de aplicações de fungicidas necessárias ao controle da mancha de ramulária do algodoeiro durante as diferentes fases do ciclo da cultura, conforme descrito na Tabela 1.
A primeira aplicação foi realizada no aparecimento dos primeiros sintomas da mancha de ramulária. As aplicações subsequentes foram adotadas em intervalos de 15 dias. As avaliações da severidade da mancha de ramulária foram realizadas quinzenalmente, atribuindo-se notas de severidade da doença de acordo com a escala de notas contidas nas Tabelas 2.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso, fatorial 4 x 4, sendo 4 cultivares (BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal) x 4 (número de aplicações: 0, 2, 3 e 4) e quatro repetições, totalizando 64 parcelas experimentais, sendo cada parcela constituída por seis linhas de plantio, medindo 8m de comprimento.
A colheita manual foi realizada nas quatro linhas centrais de cada parcela, descartando-se 0,50m de cada extremidade, e foi efetuado o cálculo de produtividade por tratamento, em arroba por hectare de algodão em caroço.
Resultados
Na Tabela 3 estão relacionados os dados referentes à data de plantio das cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal, aos períodos da emergência das plântulas, das aplicações dos fungicidas, dias após a emergência que as plântulas receberam os tratamentos com fungicidas, umidade relativa (%), temperatura (ºC) e velocidade do vento (KPA) no horário da aplicação dos fungicidas.
Na avaliação da severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal nas diferentes fases de cultivo do algodoeiro submetidas a 0, 2, 3 e 4 aplicações com fungicidas, observou-se que houve diferença significativa entre as cultivares avaliadas em todas as avaliações, segundo teste F (Tabela 4). Houve também efeito significativo em relação ao número de aplicações realizadas, exceto na primeira e na segunda avaliação. A interação cultivares x aplicações foi significativa na terceira, quarta, quinta e sexta avaliação, segundo teste F.
As avaliações da severidade da mancha de ramulária foram realizadas aos 41, 58, 72, 89, 99 e 112 dias após a emergência (DAE) das plântulas. Os resultados das avaliações estão apresentados nas Tabelas 5 e 6.
Na Tabela 5 observa-se que não houve diferença significativa entre o número de aplicações de fungicidas nas duas primeiras avaliações, segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%.
A primeira avaliação da severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286, FM 901, FMT 707 e Delta Opal foi realizada aos 41 Dias Após a Emergência (DAE) das plântulas de algodoeiro. Essa observação foi realizada antes da primeira aplicação de fungicida, indicando que o nível de severidade da doença se encontrava uniforme nas parcelas avaliadas, com algumas folhas do baixeiro apresentando pontos de coloração branca/mancha azulada conforme descrito na Tabela 2, exceto para a cultivar FMT 707, que não apresentava nenhum sintoma da doença, diferindo significativamente das demais cultivares. A segunda avaliação foi procedida aos 58 DAE, ou seja, 17 dias após a primeira pulverização. Nessa avaliação não houve diferença significativa entre as plantas das parcelas que receberam uma aplicação e as plantas que não receberam aplicação, sem fungicida. Esse fato deve-se à baixa severidade da doença nas plantas das parcelas avaliadas. A cultivar FMT 707 não apresentou sintomas da mancha de ramulária, diferindo significativamente das demais cultivares.
Na terceira, quarta, quinta e sexta avaliação da severidade da mancha de ramulária, observou-se diferença significativa entre o número de aplicações de fungicida dentro das cultivares avaliadas (Tabela 6), exceto para a cultivares BRS 286 e FMT 707 na terceira e quarta avaliação, constatando-se que não houve diferença significativa entre o número de aplicações com fungicida nas plantas avaliadas.
Na terceira avaliação, em relação à cultivar FM 910, as plantas que vão receber quatro (B4) pulverizações diferiram significativamente das plantas que não receberam pulverização (B0) ou receberam duas (B2) ou irão receber três (B3) pulverizações. As plantas que receberam duas pulverizações (B2) ou irão receber três (B3) pulverizações não diferiram das plantas que não foram pulverizadas com fungicida (B0). Em relação à cultivar Delta Opal, as maiores notas da severidade da mancha de ramulária foram constatadas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0), diferindo significativamente das plantas que irão receber quatro (B4) pulverizações, que não diferiram das plantas que receberam duas pulverizações (B2) e das plantas que receberão três (B3) pulverizações. Observa-se também que a menor nota da severidade da doença entre as cultivares avaliadas foi constatada na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das demais cultivares, independentemente do número de aplicações com fungicidas.
Na quarta avaliação, o comportamento da cultivar FM 910 foi semelhante à terceira avaliação quanto à severidade da doença em relação ao número de pulverizações com fungicida. As plantas que receberam duas pulverizações (B2) ou três (B3) pulverizações não diferiram das plantas que não foram pulverizadas com fungicida (B0), porém, diferiram das plantas que irão receber quatro (B4) pulverizações. Em relação à cultivar Delta Opal (A4), as maiores notas da severidade da mancha de ramulária foram constatadas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0) ou receberam duas (B2) e três (B3) pulverizações, diferindo significativamente das plantas que irão receber quatro (B4) pulverizações. Observa-se também que a menor nota da severidade da doença entre as cultivares avaliadas foi constatada na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das demais cultivares, independentemente do número de aplicações com fungicidas.
Na quinta avaliação, realizada aos 99 DAE, observa-se que as maiores notas de severidade da mancha de ramulária na cultivar BRS 286 foram constatadas nas plantas que não receberam pulverização, diferindo significativamente das plantas que receberam três (B3) ou quatro (B4) pulverizações. As plantas das cultivares FM 910 e Delta Opal que receberam quatro (B4) pulverizações obtiveram as menores notas da doença, diferindo significativamente das plantas de receberam 0 (B0), duas (B2) ou três (B3) pulverizações. Em relação à cultivar FMT 707, a maior nota de severidade da doença foi observada nas plantas que não receberam pulverização, diferindo significativamente das plantas que receberam duas, três ou quatro pulverizações. Observa-se também que a menor nota da severidade da doença entre as cultivares avaliadas foi constatada na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das demais cultivares, independentemente do número de aplicações com fungicidas.
Na sexta avaliação da severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286 e FM 910, as maiores notas de severidade foram obtidas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0), diferindo significativamente das plantas que receberam duas (B2), três (B3) e quatro (B4) pulverizações. No entanto, as plantas destas cultivares que receberam duas e três pulverizações obtiveram notas de severidade da doença superiores às plantas que receberam quatro pulverizações, diferindo, portanto, significativamente. Nessa avaliação, em relação à cultivar FMT 707, as maiores notas de severidade foram obtidas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0), diferindo significativamente das plantas que receberam duas (B2), três (B3) e quatro (B4) pulverizações. As plantas da cultivar Delta Opal que não receberam pulverização ou receberam duas pulverizações com fungicida obtiveram as maiores notas de severidade da mancha de ramulária, diferindo significativamente das plantas que receberam três e quatro pulverizações, que também diferiram entre si.
Nesta avaliação observou-se, ainda, que as menores notas de severidade da mancha de ramulária foram obtidas na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das cultivares BRS 286, FM 910 e Delta Opal, segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%.
Observou-se também que o fungicida utilizado não causou fitotoxicidade nas plantas tratadas e que não houve incidência de outras doenças nas plantas avaliadas.
Nas condições que este estudo foi conduzido, na Fazenda Mimoso, município de Luís Eduardo Magalhães, safra 2010/2011, para o controle da mancha de ramulária em algodoeiro adensado com as cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal, observou-se que não houve diferenças significativas entre o número de pulverizações com fungicida para produtividade de algodão em caroço (arroba por hectare) (Tabela 7), segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%. Chitarra & Barbosa (2011) relataram em experimento semelhante com as cultivares BRS 286, Delta Opal e FMT 707 em espaçamento de 0,76m que o número de aplicações com fungicidas influenciou na produtividade do algodoeiro. As plantas que receberam quatro pulverizações foram mais produtivas que as plantas que receberam uma, duas ou não receberam pulverização.
Em relação às cultivares, a cultivar FMT 707 obteve a maior produtividade média de algodão em caroço, 183,51 arrobas por hectare, diferindo significativamente das cultivares BRS 286 e Delta Opal, com produtividades de 166,16 arrobas/hectare e 159,79 arrobas/hectare, respectivamente, segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%. Não houve diferença significativa em produtividade entre as cultivares BRS 286, FM 910 e Delta Opal e entre as cultivares FMT 707 e FM 910. De acordo com Chitarra & Barbosa (2011) em experimento semelhante com as cultivares BRS 286, Delta Opal e FMT 707 em espaçamento de 0,76m, a cultivar FMT 707 obteve produtividade média de 257,18 arrobas/hectare, superior às produtividades das cultivares BRS 286 e Delta Opal, com 246,00 arrobas/hectare e 244,37 arrobas/hectare, respectivamente.
A partir do experimento foi possível chegar a algumas constatações. Dentre as cultivares avaliadas, BRS 286, FM 910 e Delta Opal mostraram-se mais suscetíveis à mancha de ramulária em comparação com a cultivar FMT 707. O número de aplicações de fungicida utilizado nesse estudo influenciou no controle da mancha de ramulária, porém, não afetou a produtividade do algodoeiro. A maior produtividade de algodão em caroço (arroba/hectare) no cultivo adensado do algodoeiro foi obtida pela cultivar FMT 707.
Luiz Gonzaga Chitarra
Embrapa Algodão