A adubação do coqueiro-gigante do Brasil realizada com esterco e resíduos vegetais demonstrou resultados de produção e ambiental superiores quando comparada com a adubação química exclusiva. Os dados foram obtidos após três anos de estudos realizados por pesquisadores e técnicos da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) no Campo Experimental de Itaporanga D´Ajuda, sul de Sergipe.
A adubação realizada, indicada pelos pesquisadores para pequenas propriedades, é a compostagem laminar, prática desenvolvida para cobertura do solo na área circular ao redor da planta, conhecida como zona do coroamento, utilizando resíduos de culturas existentes na propriedade rural. A técnica assemelha-se ao processo que ocorre naturalmente em uma floresta: o solo é coberto por camadas de resíduos em diversos estágios de decomposição. Essa técnica contribuiu para o bom desenvolvimento da planta e aumento da produtividade com baixa utilização de insumos químicos.
Os pesquisadores compararam a compostagem laminar com outros três tipos de tratamentos: adubação química (na qual são aplicados nitrogênio, fósforo e potássio), húmus de minhoca e a compostagem laminar mais húmus de minhoca. Nos quatro tratamentos foi feita uma adubação inicial, com base na análise de solo, que consistiu em 1,5 kg de ureia, 1 kg de superfosfato simples, 1 kg de cloreto de potássio e 2 kg de calcário dolomítico.
Os pesquisadores também analisaram o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Os resultados mostraram que também nesse aspecto a compostagem laminar favoreceu o aprofundamento e a expansão lateral das raízes tanto na superfície quanto nas camadas mais inferiores do solo.
Resultados melhores a longo prazo
Os dados de produção relacionados a número de cachos e de frutos por plantas e volume de água por fruto foram obtidos de 24 colheitas. O coqueiro com adubação química apresentou ganhos de produção já no primeiro ano. Na compostagem laminar, o efeito favorável ocorreu significativamente após 24 meses de aplicação do tratamento. No início das pesquisas, em 2012, a produção em todos os tratamentos era equivalente a entre15 e 20 frutos por planta/ano.
Em 2013, esse número subiu para 35 na adubação química, enquanto na compostagem laminar o aumento foi pouco expressivo. A resposta positiva da compostagem veio em 2014, dois anos após o início da aplicação dos tratamentos, quando a produção praticamente dobrou em relação ao ano anterior e a da adubação química se manteve estável.
Quando os pesquisadores avaliaram a quantidade de frutos que não tem valor no mercado, verificou-se maior perda, em números absolutos, nas plantas que receberam adubação química. Os frutos não comercializáveis são aqueles que durante seu desenvolvimento apresentam redução de tamanho, de peso e de volume de água, além de deformações na casca.
“Os resultados obtidos permitem pressupor que o melhor desempenho dos tratamentos com compostagem laminar está embasado em um dos pilares da agricultura agroecológica que preconiza que a matéria orgânica, além de fornecer nutrientes para as plantas, melhora e mantém a vida do solo, refletindo em aumento de produtividade ao longo do tempo. Esse fato contribui para aumentar a tolerância das plantas às doenças e pragas”, esclarece a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros Maria Urbana Correa Nunes.
De acordo com os estudos, os pesquisadores acreditam que a superioridade da compostagem laminar em relação à adubação química exclusiva pode estar associada também com o efeito desta prática na diminuição da temperatura e no armazenamento de água no solo. “Essas questões são relevantes porque nos meses mais secos do ano a redução de água no solo provoca forte estresse hídrico nas plantas com reflexo direto na produtividade. Esse tem sido um fator limitante em toda a área de produção de coqueiro na baixada litorânea do Nordeste”, afirma Nunes.
As pesquisas mostram que a manutenção adequada de água e nutrientes na área de maior concentração das raízes em solos excessivamente arenosos se constitui fator de alta produtividade para as culturas de modo geral e, especialmente, para espécies de crescimento e produção contínua como o coqueiro.
Ganho na produção e aprofundamento de raízes
As pesquisas sobre o sistema radicular do coqueiro demonstraram que o comprimento médio das raízes em profundidade, independentemente das distâncias avaliadas, foi maior no tratamento de compostagem laminar.
Para avaliação do sistema radicular, foram abertas trincheiras próximas a quatro plantas de cada tratamento. A análise das raízes foi baseada na técnica de processamento e análise digital das raízes, utilizando-se o software Safira. Desenvolvido pela Embrapa Instrumentação (SP), essa ferramenta permite medir o comprimento médio das raízes lateralmente e em profundidade.
Cintra ressalta que esse estudo permitiu ainda questionar um pensamento comum, segundo o qual a melhoria na superfície do solo reduz o estímulo ao aprofundamento das raízes. “O resultado dessa pesquisa nos permite questioná-lo, porque a compostagem laminar propiciou, em relação a outros tratamentos, uma distribuição mais homogênea e em maior quantidade em todas as camadas avaliadas”, ressalta o pesquisador.
Na comparação das médias de comprimento de raízes por camada de solo, observou-se que ele foi maior entre 0 e 20 cm de profundidade. Esse fato reforça, para os pesquisadores, o potencial da compostagem laminar na melhoria das condições de umidade, temperatura e fertilidade na camada superficial do solo e, consequentemente, melhores condições para o desenvolvimento do sistema radicular.
Outra questão apontada pela pesquisa é que em todos os tratamentos a concentração das raízes está localizada, lateralmente, nos primeiros 100 cm a partir do estipe do coqueiro com a compostagem laminar sobressaindo dos demais. É nessa distância de até 100 cm que está concentrada a maior parte do sistema radicular do coqueiro em termos de comprimento.
Com relação à profundidade do solo, os estudos mostram que as raízes estão concentradas nos primeiros 60 cm. Cintra explica que isso reforça a necessidade de usar sistemas de manejo com capacidade de melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo e manter níveis constantes de umidade pelo maior espaço de tempo possível durante o ano.
Tecnologias não convencionais para o pequeno produtor
Cintra diz que o resultado da pesquisa foi surpreendente ao evidenciar que o uso da compostagem laminar permite ganho na produção ao mesmo tempo em que promove a reciclagem dos resíduos oriundos dos próprios coqueirais, com baixa utilização de agroquímicos e emprego de mão de obra familiar.
“Conseguimos disponibilizar aos produtores tecnologias simples, eficientes e não convencionais nos sistemas vigentes de produção de coco. E com a capacidade de melhorar a qualidade de vida dos produtores e redução da dependência de agrotóxicos”, conclui Cintra.
Coco brasileiro
O coqueiro (Cocos nucifera L.) é a palmeira de maior importância socioeconômica das regiões tropicais, sendo também uma cultura importante na sustentabilidade dos ecossistemas frágeis das regiões costeiras, onde poucas espécies vegetais são capazes de sobreviver. As condições ambientais do Nordeste são favoráveis ao cultivo do coqueiro-gigante, que ao longo dos anos passaram a fazer parte da paisagem do litoral nordestino.
Segundos dados do IBGE de 2013, no Brasil essa atividade econômica ocupa área em torno de 260 mil hectares, dos quais 212 mil estão no Nordeste, e gera emprego e renda para mais de 220 mil produtores, sendo que 85% são pequenos produtores familiares com menos de dez hectares.
Gislene Alencar (MTb 05653)
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