Campo Grande (MS) – O conjunto de ações coordenado pela Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), em parceria com as prefeituras municipais de Jardim e Bonito, visando a conservação do solo e das águas daquela região, já cumpriu as etapas iniciais de levantamento dos pontos críticos e identificação das medidas necessárias para enfrentamento do problema. Foram tomadas todas as providências cabíveis, desde a intervenções imediatas até a edição de normativas específicas. Nos passos seguintes caminha-se para uma solução duradoura que proteja o meio ambiente e as belezas naturais de Bonito, Jardim e Bodoquena, reconhecidos no mundo todo como santuário do ecoturismo.
O secretário Jaime Verruck, da Semagro, lembra que tão logo o problema do turvamento das águas do Rio da Prata foi detectado, no Verão passado, técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) e da Agesul (Agência de Desenvolvimento de MS) estiveram no local fazendo uma pré-análise da situação. “Já nessa visita constatamos algumas possíveis irregularidades concernentes ao manejo do solo em propriedades próximas ao rio, que foram notificadas para adotar as técnicas adequadas que evitassem o carreamento de sedimentos ao leito do rio”, frisou.
Nos passos seguintes, os técnicos percorreram todas as propriedades da região, bem como as estradas vicinais e também o arruamento urbano, identificando pontos de deságua nos leitos dos rios Formoso, da Prata e seus afluentes. “Identificamos os pontos por onde a água corre até entrar no rio, seja nas lavouras ou nas estradas”, conta o técnico do escritório da Agraer em Bonito, Paulo Gimenes.
Feito esse mapeamento, os trabalhos passaram para a fase de determinar quais eram as intervenções adequadas, considerando o tipo de solo e as particularidades da região. Esse trabalho de levantamento e orientação aos proprietários rurais sobre o que precisa ser executado na lavoura para evitar a erosão é feito gratuitamente pelos técnicos do governo do Estado, enquanto equipes da Agesul e das prefeituras se encarregam das medidas corretivas na malha viária.
Ainda em janeiro, os engenheiros agrônomos Murilo Olyntho Machado e Gustavo Casoni da Rocha, que trabalham em programa de conservação de solo desenvolvido pela Esalq, a famosa Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da USP (Universidade de São Paulo), juntaram-se ao grupo compartilhando novas técnicas que foram adaptadas para implantar naquela região.
Em março o governo do Estado publicou no Diário Oficial o Decreto 15.197 disciplinando o uso correto do solo na região de Bonito e Jardim. O decreto obriga que as propriedades rurais localizadas naqueles municípios apresentem à Semagro um projeto técnico de manejo e conservação do solo e água antes de implantarem novas atividades agrícolas. O decreto foi intensamente discutido com produtores rurais, trade turístico, Ministério Público, entidades civis e prefeituras.
“Essa normativa foi baseada em estudos técnicos da Semagro e Agraer e levou em conta as demandas apresentadas na audiência pública realizada no final do ano passado em Bonito, motivada pelo turvamento da água em alguns trechos de rios explorados para atividade de turismo. Sinalizou a preocupação e a reação imediata do governo do Estado com a questão do recurso hídrico e a busca do equilíbrio das atividades econômicas, como a agricultura e o turismo, com o meio ambiente”, pontuou Verruck.
No mesmo decreto foi criada a Câmara Técnica de Conservação de Solo e Água, vinculada à Semagro, tendo como atribuição a emissão de pareceres e de recomendações técnicas acerca do Projeto Técnico de Manejo e de Conservação de Solo e Água. A Câmara é composta por representante e suplente da Semagro, Agraer, Imasul, Agesul, Famasul, Fundação MS, Embrapa, Prefeitura Municipal de Jardim, Prefeitura Municipal de Bonito.
Esse colegiado tem acompanhado todas as ações desenvolvidas na região e que já começam a surtir efeitos. “O ideal é que as águas dos rios não turvem, ou seja, que não cheguem sedimentos carreados pela enxurrada. Para tanto é preciso que um conjunto extenso de ações sejam desenvolvidas e haja uma vigilância contínua para equilibrar a ocupação das áreas próximas aos rios”, observou o superintendente de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Produção e Agricultura Familiar da Semagro, Rogério Beretta.
Entre as medidas que já foram e estão sendo implementadas, estão barreiras para reduzir a velocidade e direcionar as águas tanto nas lavouras quanto nas estradas vicinais. As etapas seguintes compreendem desde a reposição de vegetação nas margens dos rios até técnicas corretas de manejo do solo para evitar as erosões. “Será um trabalho de longa duração, mas o importante é que já foi iniciado e terá sequência”, conclui Beretta.