A primeira parte deste artigo técnico teve como tema principal o atordoamento com gás e a realização do processo nos abatedouros. Nesta segunda parte, a autora Claudia Ordaz discute as vantagens e desvantagens desta tecnologia.
Vantagens e desvantagens
O abate com dióxido de carbono é preferível em relação aos choques elétricos porque favorece o bem-estar animal. Esse bem-estar é benéfico, já que os suínos podem ser manuseados e atordoados em grupos, ao invés de individualmente. O método com CO2também pode ser feito com portas mecânicas que separam os suínos em pequenos grupo, para logo serem empurrados para dentro de caixas de atordoamento, de onde deixam de depender das perfurações elétricas. Ao ser submetida a menos estresse, a carne como produto final ganha mais qualidade, já que apresenta menos perda por gotejamento nos suínos. Larsen (1983) relatou que o atordoamento de suínos com o emprego de equipamentos compactos de atordoamento com CO2 diminui consideravelmente a incidência de PSE (sigla, em inglês, para carne Pálida, Mole e Exsudativa) na carne em comparação com o atordoamento elétrico. O uso do CO2também evita a ocorrência de fraturas e limita a incidência de hemorragias em comparação com os choques elétricos. As carcaças apresentam menos equimose (hematomas), além de a satisfação do consumidor aumentar e os custos de produção caírem, dado que se economiza no custo de recorte da carne que apresenta defeitos.
Como desvantagens, o CO2 é uma técnica cuja insensibilização não é instantânea – leva cerca de 21 segundos para que um suíno perca o potencial somatossensorial (RAJ et al., 1997). É nesse ponto que o cérebro do suíno não responde a um choque sequer na pata. Gregory et al. (1987) descobriram que a narcose começa de 30 a 39 segundos após a imersão. A exposição ao CO2 estimula a frequência respiratória e pode provocar angústia respiratória (RAJ & GREGORY, 1995). O dióxido de carbono tem a capacidade de causar angústia e sua exposição em quantidades maiores que 30% é considerada aversiva aos suínos (Idem, 1996). Concentrações maiores que 80% podem ser consideradas aversivas, mas apresentam a vantagem de levar menos tempo para que os suínos percam a consciência.
Resumindo, os suínos, após terem sido expostos ao dióxido de carbono, podem recobrar a consciência se forem expostos a ar, inclusive podem chegar a se recuperar por inteiro. (BLOMQUIST, 1957; DODMANN, 1977; FORSLID, 1987; RING et al., 1988). O grau de inconsciência ou a qualidade de atordoamento dependem da concentração de CO2, do tempo de exposição e da genética do animal. Devido à biologia do animal – algo que está fora do controle do produtor –, alguns suínos recuperam a consciência, enquanto alguns não; embora tenham sido atordoados no mesmo grupo. (FORSLID,1987; HOLST, 2001).
Considerações finais
Dispor de práticas que se harmonizem com o bem-estar animal é um ato humano. Os animais devem ser atordoados antes do abate a fim de que fiquem inconscientes e, portanto, insensíveis à dor durante o abate. Todas as técnicas de atordoamento devem se assegurar de deixar o animal inconsciente imediatamente, além de o estado de inconsciência ter de durar até sua morte; devem passar pelo crivo de verificação de sua eficácia; e, por fim, devem ser práticas que possam ser implementadas por funcionários capacitados e competentes, além de possibilitar segurança aos proprietários, de maneira que não ocorra contaminação na carne, sem a presença de qualquer fator de risco.
A quantidade de suínos por grupo, o tempo gasto para se obter a concentração máxima de dióxido de carbono e os tempos de exposição variam de um animal para outro e podem ser manipuláveis. Deve-se avaliar, também, se os suínos, de acordo com sua raça e genética, são candidatos a esse tipo de anestesia, porque alguns não são. É crucial zelar pelo bem-estar animal, pois, uma vez que esse procedimento é realizado, é preciso monitorar o grau de inconsciência dos animais, atordoar os suínos quantas vezes forem necessárias, manuseá-los em grupos pequenos e fazer uso de concentração máxima de dióxido de carbono igual ou menor a 80%: tudo isso para minimizar o estresse e garantir a qualidade da carne.
Sobre a autora
Claudia Ordaz é formada em engenharia de alimentos pelo Instituto Técnico e de Estudos Superiores de Monterrey (ITESM), localizado no México. Claudia fez mestrado em tecnologia educativa na Universidade de British Columbia no Canadá e no ITESM. Colaborou como editorialista em vários jornais e revistas, entre eles o reconhecido jornal mexicano, El Norte. editores@carnetec.com.