Criada desde 1973, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) representa um dos motores da cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional. De acordo com o relatório do Ipea, ela tem atuado na cooperação técnica e científica & tecnológica, difundindo práticas da pesquisa agropecuária brasileira em todos os continentes e em diferentes temas. Apesar do reconhecimento nacional e internacional sobre o conhecimento acumulado e o papel de difusor que a Embrapa representa, a sociedade civil tem lançado críticas severas a um projeto trilateral, em particular, executado pela empresa: o ProSavana. Nesse sentido, e aliado à conjuntura internacional, citamos dois exemplos opostos no campo da cooperação triangular.
Lançado em 2009, o ProSavana é um programa de cooperação triangular entre os Governos de Moçambique, Brasil e Japão, visando o desenvolvimento agrícola na região norte de Moçambique, conhecida como Corredor de Nacala. Entretanto, o projeto foi alvo de duras críticas, por desconsiderar o contexto local e buscar o reaproveitamento do modelo agroexportador implantando no Cerrado brasileiro – fruto da cooperação entre o Brasil e o Japão na década de 1980. No Brasil, há pesquisas que comparam os objetivos e a implementação do ProSavana em relação ao PAA Africa (Purchase from Africans to Africa) e aoProAlimentos.
Recentemente, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) anunciou o término da primeira fase de um projeto trilateral entre Brasil, Suriname e Nova Zelândia, trazendo à tona mais um caso de sucesso da Embrapa, de acordo com o Governo. O projeto foi responsável por aumentar em três vezes a produtividade agrícola, diminuindo o tempo entre as colheitas e melhorando as técnicas de plantio em menos de um ano. Segundo a Embaixadora da Nova Zelândia no Brasil, Carol Bilkey, os resultados estão fantásticos, ressaltando a satisfação com a parceria e com os benefícios gerados às comunidades quilombolas.
Dois pontos merecem destaques nessa breve comparação. Em primeiro lugar, a tendência crescente em buscar mecanismos alternativos – como a cooperação triangular – para dar continuidade à projeção brasileira na cooperação para o desenvolvimento. Em um clima de incerteza política e orçamentária, a cooperação triangular serve de instrumento de financiamento e triangulação entre o Brasil, um país parceiro do Sul e outro país do Norte ou uma Organização Internacional, capaz de subsidiar os custos inerentes à implementação do projeto. Em segundo lugar, a legitimidade da Embrapa ao longo dos anos, mediante a apresentação do seu know-how, mantém sua posição como ator relevante na cooperação brasileira, mesmo diante de críticas levantadas desde o início do ProSavana, destacando-se que o imbróglio em Moçambique está mais para um caso atípico do que uma tendência da cooperação triangular.