Campo Grande (MS) – O Núcleo Industrial do Indubrasil completa 40 anos de criação em 2017 e vai receber melhorias do governo do Estado nos próximos meses. O investimento é de R$ 6,6 milhões em recursos do Fundo de Apoio à Industrialização (FAI) – administrado pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro). A assinatura da ordem de serviço será realizada nesta quinta-feira (17), às 8h, pelo governador Reinaldo Azambuja e contará com a presença de autoridades, empresários e entidades do setor produtivo. Os trabalhos envolvem a pavimentação, drenagem e restauração das vias já asfaltadas da região, beneficiando todas as empresas já instaladas no local.
“Em 2015 iniciamos o processo de revitalização dos núcleos industriais do Estado utilizando os recursos disponíveis no FAI. Esse é um fundo importantíssimo para o processo de desenvolvimento econômico. O FAI é composto por repasses oriundos dos empreendimentos que receberam incentivos fiscais do governo do Estado para se instalar em Mato Grosso do Sul. É um instrumento fundamental de transparência e responsabilidade com o dinheiro público e que está sendo utilizado para o fim a que se destina, que é o apoio à industrialização”, lembra o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck.
A determinação do governador Reinaldo Azambuja, segundo o secretário, “foi a de aplicar os recursos do FAI na revitalização de alguns núcleos industriais existentes no Estado. Já estamos em fase final de obras nos núcleos de Dourados e Fátima do Sul. Em Campo Grande, já fizemos a pavimentação e drenagem do Polo Empresarial Norte e agora vamos revitalizar o Núcleo do Indubrasil. É uma ação estratégica para proporcionar competitividade ao local no momento em que um dos maiores empreendimentos atraídos pelo governo está prestes a ser inaugurado”.

Caminhões estacionados em frente à ADM. Revitalização do asfalto é necessária para facilitar a logística no local
Neste segundo semestre, a ADM (Archer Daniels Midland Company) inicia as atividades de sua nova planta industrial em Mato Grosso do Sul, considerada a maior fábrica de proteína texturizada de soja da América Latina – obra de R$ 610 milhões. “Em março deste ano, o governo se comprometeu em dotar o Núcleo Industrial com a infraestrutura necessária para viabilizar a operacionalidade da empresa, bem como apoiar os demais investimentos futuros e já em atividade ali”, lembra Jaime Verruck.
A planta da ADM em Campo Grande vai operar com altíssima tecnologia na produção de proteína texturizada da soja, produto alimentício obtido por meio de um complexo processo industrial chamado extrusão termoplástica. A proteína texturizada é a base para produção de hambúrgueres e almôndegas de soja, por exemplo.
A concretização do empreendimento foi garantida por meio da contratação de R$ 274 milhões feita pela ADM junto ao Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO). Foi a primeira contratação de recursos desse fundo concretizada para Mato Grosso do Sul, fator que, na opinião de Jaime Verruck, na época, “simbolizou o novo momento na atração de investimentos para o Estado”. O grande diferencial do FDCO é o prazo de até 20 anos para pagamento, além das taxas de juros mais baixas do mercado.
Histórico do Núcleo
No final da década de 1970, o crescimento da cidade de Campo Grande já justificava a destinação de um local apropriado para a instalação de indústrias. Mas a rivalidade existente entre o Norte e o Sul de Mato Grosso também motivou a criação do Núcleo Industrial do Indubrasil. “Nesse período havia uma disputa muito forte entre Campo Grande e Cuiabá. Como o Garcia Neto, governador de Mato Grosso na época, criou um distrito industrial em Várzea Grande. A ‘resposta’ do então prefeito de Campo Grande, Levy Dias, foi a criação do Núcleo Industrial do Indubrasil”, lembra o economista da Semagro, Eduardo Marcos da Silva.
Em 1977, foi implantado então pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, o Núcleo Industrial do Indubrasil: uma área de 200 hectares localizada na região oeste da Capital, nas margens da rodovia BR-262, que conta com 80 lotes (de 5 mil a 10 mil metros quadrados), nos quais se instalaram empreendimentos industriais que revelam alguns dos caminhos do desenvolvimento econômico do município e do Estado. Em 1982, a área foi repassada e passou a ser administrada pelo governo do Estado.

O economista Eduardo Silva, em frente ao local onde funcionou a Fertisul, primeira indústria a se instalar no Núcleo Industrial do Indubrasil.
Eduardo Silva, que foi presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso do Sul (Codems) – na época, vinculado à Secretaria de Estado de Turismo, Indústria e Comércio (atual Semagro) – conta que a primeira empresa que se instalou no local foi a Fertisul – Adubos Ipiranga, indústria de adubos nitrogenados. Atualmente o local abriga um curtume. A existência de ramal ferroviário no Núcleo atraiu outras empresas do setor, como a Adubos Guano, que se instalou em 1977 e ainda mantém suas atividades e a Indústria de Adubos Paulista (hoje desativada).

Galpão da Adubos Guano, indústria de adubos que funciona desde 1977 no Núcleo Industrial do Indubrasil
A infraestrutura do Núcleo, com a avenida principal e vias secundárias pavimentadas, rede e estação rebaixadora de energia elétrica, ramal ferroviário e central telefônica, era um atrativo para a atração de empresas. “A indústria interessada nos apresentava o projeto. Se ele fosse aprovado, era feito um compromisso de compra e venda com o interessado e elaborado um cronograma de instalação. Cumpridos os compromissos do empreendimento, o Estado fazia a escritura da área em nome da empresa”, conta Eduardo.
Atualmente, a maioria dos lotes existentes no Núcleo Industrial do Indubrasil pertence às empresas que já se instalaram ou continuam ali instaladas. Mas é possível encontrar áreas, por exemplo, que já receberam mais de um empreendimento. “O local onde foi construída a unidade de proteína de soja texturizada da ADM seria uma fundição, que não foi adiante. Na área vizinha, o Grupo Zahran se instalou e construiu a Copasa, que produzia óleo de soja. A planta industrial foi vendida para o Grupo Sadia, abrigando a Frigobras e por fim se transformou em uma unidade da ADM”, diz o economista da Semagro.

Eduardo Silva em frente ao Moinho Campo Grande, indústria instalada no período em que MS era o terceiro maior produtor de trigo do Brasil.
Uma das construções que se destacam no Indubrasil é a do Moinho Campo Grande. Em 1988 foram iniciadas as tratativas para a construção de uma indústria de moagem de trigo em Campo Grande. O grupo interessado era o Carfep, de Uberlândia (MG). “Mato Grosso do Sul era o terceiro maior produtor de trigo do Brasil, atrás somente do Paraná e do Rio Grande do Sul. Chegamos a produzir 600 mil toneladas de trigo em 1988. Nada mais lógico do que instalar uma unidade moageira para produção de farinha aqui no Estado, visto que as grandes unidades instaladas no país eram próximas de portos, para receber trigo importado”, lembra Silva. O Moinho foi inaugurado em 1992 e funcionou por 4 anos.
Outros empreendimentos importantes para Campo Grande e para o Estado, que se instalaram no local, foram o armazém de produtos ensacados da Agrosul (onde hoje funciona a Falcon Aditivos); a Tramasul, primeira empresa de madeira tratada do Estado; a Hidrate, que produzia soro fisiológico para uso hospitalar; a Frangovit, que chegou a ter mais de 1 mil funcionários; o armazém graneleiro da Conab, que já foi o maior do Estado, com capacidade 100 mil toneladas de armazenagem e a antiga Concretex (hoje Carandazal), primeira indústria de concreto usinado de Mato Grosso do Sul.

Armazém da Conab, com capacidade de armazenagem de 100 mil toneladas de grãos. Já foi o maior armazém do Eetado.
Fotos: Edemir Rodrigues/Subcom