São Paulo (SP) – O Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, acompanhou, durante a programação do Salão Internacional da Avicultura e Suinocultura, essa semana, em São Paulo, o painel que reuniu executivos que lideram as três maiores empresas do setor no país: BRF, JBS e Aurora Alimentos e que possuem significativos investimentos no Estado.
Na oportunidade eles avaliaram que o crescimento da população mundial e a elevação da renda per capita refletirão em uma forte expansão do consumo de proteína animal. Nesse cenário, o Brasil reúne condições de qualidade e sanidade para alavancar sua produção e exportação – o que beneficiará todos os elos da cadeia produtiva que estiverem capacitados para aproveitar as oportunidades.
Os executivos compartilharam suas análises e prognósticos durante o segundo dia do SIAVS, evento promovido pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni chamou atenção para um dado estatístico: até 2050, o planeta demandará 70% a mais de proteína animal do que é ofertado hoje. “O mundo vive um momento especial para as proteínas, com aumento do consumo. O desafio é estarmos preparados para atender essa demanda”, ressaltou. Tomazoni também apontou a relevância de as empresas atenderem com precisão as necessidades dos clientes. “O consumidor está cada vez mais exigente e consciente. Precisamos estar superfocados nessa nova geração, que busca uma alimentação mais saudável, se preocupa com o ambiente e com o bem-estar animal e quer garantia de origem”.
Destacando que a carne suína e a de frango estão entre as proteínas que mais avançam no mercado mundial, o CEO Global da BRF, Lorival Luz, salientou que o ritmo acelerado de expansão vem das economias emergentes – como China e Índia. “Temos uma grande oportunidade de nos posicionarmos adequadamente para atender esse crescimento. Nossa credibilidade e imagem que vão fazer com que o Brasil consiga aproveitar as oportunidades”, afirmou o executivo. “O desafio é atender a demanda mundial com regras de food safety e em linha com exigências dos principais mercados e clientes. É um movimento que leva tempo e exige maturidade”, complementou.
À frente da Aurora Alimentos, Mario Lanznaster detalhou os benefícios do sistema de integração. “Quando se organiza tudo direito, todos ganham, tanto a integradora como o integrado”, disse. De acordo com o presidente da cooperativa, os resultados desse sistema são a produção padrão e programada, com garantia da entrega e apoio de assistência técnica especializada. “Podemos alimentar boa parte do mundo, correspondendo às exigências de cada mercado”, disse, exemplificando que países como China e Rússia não aceitam a utilização de ractopamina na dieta de suínos.
Como mediador do painel dos CEOs, o vice-presidente e diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, enfatizou a capacidade do setor de fazer frente ao aumento da demanda global. “O Brasil não vai abrir mão da responsabilidade que conquistou para a segurança alimentar mundial. A rastreabilidade é uma das principais garantias da qualidade e da sustentabilidade da nossa produção. ”
Mais produtividade e competitividade
Os diferentes elos da cadeia do agronegócio se destacaram nas últimas décadas por ganhos significativos em produtividade. Esse diferencial, além de posicionar o país no mercado exterior, foi fundamental para sustentar o crescimento do resto da economia. Para falar sobre as perspectivas e os desafios para melhorar ainda mais esses índices, o SIAVS apresentou um painel sobre como os setores de grãos e proteínas podem se tornar ainda mais competitivos.
Diretor presidente da Coopavel, Dilvo Grolli traçou um paralelo entre a evolução do PIB brasileiro com a dos grãos. “Enquanto a economia cresceu 3% na soma dos últimos três anos, esse setor avançou 30%. É dez vezes mais”, pontuou. O executivo apresentou grandes números dos principais cultivos – destacando que isso ocorreu sem desmatamento, com a produtividade avançando em um ritmo muito mais rápido do que o uso de áreas.
Para o especialista em grãos, no entanto, ainda há grandes gargalos que devem ser trabalhados no Brasil. “O agronegócio brasileiro está caminhando em um novo rumo. Temos de aproveitar a oportunidade para melhorar nossa logística, que é bastante complicada”, criticou, citando o excessivo uso do modal rodoviário como um dos entraves “da porteira ao porto”.
O painel também contou com uma presença internacional: Justin Sherrard, estrategista global da Rabobank. O australiano analisou o cenário internacional e as tendências que surgem para o produtor brasileiro. “Embora ainda haja espaço para crescimento na China e no Sudeste Asiático, a África é o continente que terá mais demanda nos próximos anos”, informou. A tendência ao protecionismo, segundo ele, também deve ser olhada com cuidado – mas isso não significa que essa mudança na dinâmica do comércio exterior seja sempre negativa. “Cria incertezas, mas também oportunidades”, alertou.
No curto prazo, o analista também acredita que o surto de peste suína africana – que tem se disseminado pelo território asiático há cerca de um ano – pode trazem vantagens para o produtor brasileiro. “Haverá uma redução significativa na produção de suínos na China em função dessa doença. E isso vai impulsionar as importações”, diagnosticou, detalhando que a epidemia deve ser “de muitos anos e em várias regiões”.
texto e fotos Kelly Ventorim (Semagro), com assessoria SIAVS