Sistema de armazenamento começou a se estabelecer nos últimos três anos e pode ser alternativa para safra recorde
Baixo custo de investimento, facilidade e rapidez são alguns dos benefícios dos silos-bolsas, também conhecidos como silo-bags. O método de armazenagem começou a ganhar força no Brasil nos últimos três anos, mas, segundo Gustavo Borrat Bazzano, diretor Comercial da Pacifil, empresa nacional produtora de silos, ainda não atingiu 10% da produção nacional de grãos. “Em países vizinhos, como Uruguai e Argentina, 50% a 60% da produção de grãos já passam por silo-bolsas”, diz.
Embora o uso ainda seja pequeno, o setor está crescendo, segundo Bazzano. “Estimamos que o Brasil utilizou 65 mil unidades de silo-bolsa no ano passado e a expectativa para este ano é de até 80 mil unidades”, afirma. As bolsas podem ser utilizadas para o armazenamento de qualquer tipo de grão e silagem, mas as culturas que mais utilizam são soja, milho e arroz.
Apesar dos pontos positivos, a técnica também tem seus inconvenientes. Marcelo Alvares de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Pós-Colheita (Abrapos) e pesquisador da Embrapa Soja, diz que a tecnologia foi criada em países mais frios, como Canadá e Argentina, e é mais eficiente em regiões com temperaturas mais baixas. Segundo ele, em locais mais frios e com menos chuva, é possível colher produtos mais limpos e secos. “Para ter uma boa armazenagem no silo-bolsa, o produtor precisa ter baixa umidade, 13% seria o ideal”, afirma. “Nas nossas condições de clima tropical e altas temperaturas, a chance de ocorrer fermentação do grão é grande.”
Ele ainda diz que o silo-bolsa é uma boa opção se você conseguir colher um grão seco, limpo e puder garantir que a bolsa não será furada. Porém, o pesquisador afirma que no Brasil ainda se colhe o grão com muitas impurezas e elas prejudicam o armazenamento. “Isso é uma cultura do brasileiro. Os americanos, por exemplo, colhem grãos mais limpos porque andam mais devagar com as colheitadeiras e limpam melhor o maquinário”, afirma Oliveira. “O operador da colhedora joga o grão direto para o secador, em alguns lugares nem existe limpeza e pré-limpeza.”
Para Adenilson Vilella, gerente comercial da Pagé, fabricantes de equipamentos para armazenagem e beneficiamento de grãos, o silo-bolsa não será um concorrente do silo estático. “O silo-bolsa é visto por nós, fabricantes de equipamentos de armazenagem, como um método emergencial.” No ano passado, a empresa vendeu 80 instalações, que representam 640 mil metros cúbicos de capacidade de armazenagem. De acordo com Vilella, a previsão é de aumentar esse número em 20% em 2016. Confira a seguir outras curiosidades sobre o silo-bolsa.
1 – Relação de custo-benefício
Um silo-bolsa com capacidade para 200 toneladas custa, em média, R$ 1.500 e demanda duas máquinas: a embutidora e a extratora. Segundo Bazzano, é possível comprar os dois equipamentos por, aproximadamente, R$ 100 mil, ou ainda alugar.
Por outro lado, o silo metálico tem um custo mais alto e exige mais equipamentos auxiliares, sendo uma opção melhor para grandes produtores. Adenilson Vilella, gerente comercial da Pagé, diz que um silo convencional com capacidade para 50 mil sacas, 3 mil toneladas, custa a partir de R$ 800 mil. O pacote inclui moega de recebimento, elevador de cargas, máquina de limpeza, secador e o silo. Vilella diz que com a manutenção correta, a vida útil do silo metálico é “infinita”. “A garantia da chapa é de 20 anos, mas tem silos instalados há 35 anos”, afirma. A empresa fornece silos menores, mas afirma que para pequenas quantidades o negócio fica economicamente inviável.
2 – Capacidade de acordo com a produção
Enquanto o silo convencional tem um volume pré-determinado, o silo-bolsa é mais flexível. “O produtor faz o investimento certo para a necessidade dele”, afirma Bazzano. A Pacifil oferece diversas variações de medidas como, por exemplo, um silo-bolsa de nove pés por 200 pés de comprimento com capacidade para armazenar 180 toneladas de grãos, ou seja, três mil sacas de 60 quilos, com o custo de R$ 1.500.
3 – Mantém a qualidade dos grãos armazenados
Os silos-bolsa são feito de polietileno e aditivos anti-UV, que mantêm os produtos protegidos. O diretor comercial da Pacifil afirma que a qualidade dos grãos fica inalterada durante a armazenagem. Outro ponto citado como positivo é a possibilidade de segregar os grãos dentro das bolsas. “A produção não se mistura com grãos de outros tipos e qualidades”, diz. No interior da bolsa, a atmosfera fica sem oxigênio, o que impede o aparecimento de pragas, fungos e insetos.
4 – Duração de até dois anos
As bolsas têm vida útil de 24 meses, mas só podem ser utilizadas por uma safra. Após o uso, o silo é cortado e o material deve ser descartado. Esse tipo de silo é feito com 100% de material reciclável, o que facilita o descarte. O produtor pode vender o material para empresas de reciclagem. Segundo Bazzano, o silo-bolsa tem um valor de comercialização de mais ou menos 20% do seu custo original.
5 – Opção sustentável
Os materiais utilizados pela Pacifil na produção do silo-bolsas são da Braskem, que oferecem o polietileno (PE) de fonte petroquímica e o polietileno verde, de fonte renovável. “O silo-bolsa produzido com qualquer um dos dois materiais terá a mesma característica de qualidade e durabilidade”, diz José Augusto Esteves Viveiro, líder comercial de PE Verde da Braskem. “O diferencial é que o PE verde captura CO2 da atmosfera e ajuda na questão do aquecimento global.” Segundo ele, Para cada tonelada de polietileno verdade, são retiradas 2,15 toneladas de CO2.
6 – Quem pode usar silo-bolsa
Como é totalmente adaptável ao volume de grãos produzido, esse tipo de armazenagem atende todos os tipos de produtores, desde o pequeno ao grande. De acordo com Bazzano, algumas empresas já oferecem o serviço de embolsamento para as pequenas propriedades que não têm os equipamentos adequados para a extração dos grãos.
7 – O que falta para deslanchar no Brasil
Para Ana Paiva, especialista em Desenvolvimento de Mercado da Braskem, é um fato que o Brasil tem um déficit de armazenagem e, por ser uma solução flexível, há muito espaço para o silo-bolsa crescer. “O número de silos estacionários cresce, mas a safra cresce muito mais”, afirma.
O que explica a baixa participação dos silo-bolsas nas propriedades rurais brasileiras ainda é a falta de conhecimento, segundo a especialista. “Ele [o produtor] precisa ser motivado a usar pela primeira vez para ver que funciona e não é difícil”, diz Ana. “Ainda tem muito produtor que não conhece o silo-bolsa.”
8 – Capacitação para armazenar com silo
De acordo com Marcelo Oliveira, presidente da Abrapos, todas as tecnologias de armazenagem não são muito conhecidas pelos produtores brasileiros. “O produtor é bom em produzir, mas colocar no silo o grão sem impurezas e seco não é uma prática comum”, diz. “A gente precisa de mão de obra para armazenar.”
Ele acredita que o armazenamento em fazenda é um setor que deve crescer no Brasil, porém é uma tecnologia que merece ser melhorada para se adaptar as condições do País. “O maior problema que eu vejo no silo-bolsa são os bichos, pássaros ou roedores, que podem furar o saco e deixar entrar água, favorecendo o surgimento de fungos.”
9 – Armazenagem precisa avançar
Segundo Oliveira, o ideal é que o País tivesse pelo menos 1,5 mais capacidade de armazenagem estática do que produz. Enquanto isso não acontece, o silo-bolsa pode ser uma alternativa para ajudar os produtores. Segundo informações da Conab atualizadas na última terça-feira (23/02), a capacidade estática brasileira é de 151,7 milhões de toneladas para produtos agrícolas, que além de grãos inclui sisal, castanhas e outros de pequeno volume. “A nossa produção de grãos está aumentando exponencialmente, dobrou em 10 anos, e a capacidade estática é lenta, temos que avançar”, diz o presidente da Abrapos. “A safra brasileira vai bater 200 milhões de toneladas de grãos, não temos capacidade para armazenar uma safra”.
* Atualização em 04/03. Um silo convencional que custa a partir de R$ 800 mil tem capacidade para armazenar 50 mil sacas, 3 mil toneladas. Erramos ao dizer que a capacidade era de 3 milhões de toneladas.
Por Naiara Araújo, SFAgro