Se a umidade passar do teor ideal, o armazém oferta um valor abaixo do que seria pago originalmente ao produtor
A umidade do grão é a relação percentual entre a quantidade de água e a massa total da amostra. Esse dado é um dos critérios avaliados pelos compradores desses produtos. Para atender ao mercado, é necessário que produtos como soja e milho apresentem teor de umidade numa média de 14%.
Se o produtor não estiver atento à esse detalhe, o excesso de umidade dos grãos pode causar prejuízos na comercialização do produto. Com isso, as unidades recebedoras podem descontar grandes valores na hora do pagamento. Roseli Giachini, uma das vice-presidentes da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), explica por que a umidade influencia no peso do produto. Segundo ela, quando o produto apresenta alto teor de umidade, isso significa que o comprador pagaria também pela água e não só pelo grão. ”O preço a ser pago fica abaixo do que o produtor deveria receber pelo excesso de água”, diz Roseli. Para evitar esse tipo de problema, a orientação para os agricultores é medir a umidade dos grãos durante todo o plantio, principalmente durante a fase de pré-colheita e colheita.
1- Como a umidade influencia o preço?
De acordo com presidente da Associação Brasileira de Pós Colheita e pesquisador da Embrapa, Marcelo Alvares, o processo de medição do teor de umidade é simples e rápido. “Os determinadores elétricos ou eletrônicos são usados no controle da secagem, da armazenagem e em transações comerciais de grãos”, diz Alvares.
O teor médio de umidade da soja e do milho deve ser de 14%. Se a umidade ficar acima dessa média ideal, o armazém oferta um valor abaixo do que seria pago originalmente pela quantidade do produto. De acordo com Roseli, se o produtor entrega soja com umidade em 20%, por exemplo, isso significa que o grão está com 6 pontos percentuais acima do ideal de 14%. Com isso, o número 6, que representa o “excesso de umidade”, é multiplicado por um valor de correção que geralmente varia entre 1,5% e 2,0%. Assim, o resultado chegaria a até 12% e o pagamento ao produtor sofreria esse desconto. O cálculo varia de armazém para armazém, a depender do valor de correção estipulado pelo comprador.
2- Medidores de umidade de grãos
Para monitorar o grão e medir a umidade antes a colheita, o produtor deve ter um medidor. Há dois tipos de produto, os medidores portáteis ou de bancada. ”Os medidores de bancada possuem tecnologia e recursos bem superiores e medem a umidade com maior precisão”, diz Roseli. Contudo, segundo ela, esse tipo de medidor é mais caro e popular nos armazéns. ”Já o portátil é bastante funcional para ser levado para o campo e medir a umidade ao longo do período de plantio e na hora da colheita”, afirma Roseli. Assim, os produtores geralmente preferem o modelo portátil, por ser mais barato e prático.
3- Como manter o teor de umidade ideal?
O produtor precisa contar com um pouco de sorte para não passar do teor de 14% de umidade dos grãos. Segundo Roseli, o bom resultado depende de clima favorável, o que significa estiagem para colher os grãos. ”O clima seco é ideal. Se tem muita chuva na hora da colheita, aumenta a quantidade de água no grão”, diz Roseli.
Porém, em caso de tempo chuvoso, uma dica muito importante é não esperar demais para intensificar os trabalhos de campo. ”Se o produtor deixa passar do tempo para esperar o grão secar, às vezes chove e ele não consegue colher a tempo”, diz a segunda vice-presidente da Aprosoja. Roseli diz que esperar o grão atingir umidade próxima aos 14% é arriscado devido às chuvas inesperadas que podem ocorrer e aumentar ainda mais a quantidade de água desse grão. Essa umidade excessiva, além de ser descontada do pagamento pelo comprador, pode gerar ainda grãos avariados.
4- Cuidado com os grãos avariados
Alta umidade é praticamente sinônimo de grãos avariados. “Em alguns casos, os avariados são os grãos queimados, ardidos, mofados, fermentados e germinados”, conta Roseli. Segundo ela, todas esses problemas causados pela umidade geram perdas no pagamento ao produtor durante o processo de classificação do grão. Ou seja, além de perder dinheiro por não ter um teor de água ideal presente no grão, o produtor ainda pode ter mais prejuízos durante a venda.
Mas o produtor deve evitar a situação inversa, quando o grão chega seco demais nas unidades recebedoras.”Quando o grão fica muito tempo armazenado, a umidade presente nele abaixa”, diz Roseli. Por isso, segundo ela, é importante não deixar o produto muito tempo parado e repassar para os armazéns assim que for colhido, uma vez que os grãos secos também valem menos.
5- Certificação
Desde fevereiro deste ano, todos os medidores de grãos utilizados em transações comerciais passaram a ser obrigatoriamente aprovados e verificados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Segundo o Instituto, o objetivo da regulamentação é garantir medições mais precisas e seguras além de proteger a atividade comercial e evitar prejuízos, uma vez que a umidade influencia diretamente no preço dos grãos. ”Um instrumento fora dos padrões metrológicos pode impactar nos negócios, e até na economia do país, diante do grande volume nas transações”, afirma Luiz Carlos Gomes, diretor de Metrologia Legal do Inmetro.
6 – O medidor universal ficou no passado
Outra novidade é que padronização adotada pelo Inmetro proibiu já para esse ano a comercialização dos medidores de umidade chamados de “universal”, que apresentavam problemas no cálculo de umidade. Com esse tipo de medidor, o operador da máquina tinha que colocar o grão numa “roda dentada” para amassar a soja manualmente. Porém, esse processo gerava imprecisão no resultado. “A interferência do operador poderia influenciar diretamente na leitura de umidade dos grãos”, conta.
Para os outros modelos, os fabricantes de medidores de umidade terão o prazo até 15/02/2017 para se adequarem e regularizarem a produção dos seus equipamentos para atender a Portaria nº 402, de 15/8/2013. ”Após esse prazo fica proibida comercialização de equipamentos medidores de umidade que não atendam essa portaria”, diz Alvares.
Contudo, o presidente da Abapos ainda explica que este regulamento do Inmetro se aplica somente aos medidores de umidade de grãos utilizados em transações comerciais e na fiscalização por parte dos órgãos competentes. ”Assim sendo, toda empresa que utilizar medidor de umidade apenas internamente, isto é, não ocorrendo transações comerciais, pode utilizar equipamentos que não estejam regulamentado pelo Inmetro”, afirma Alvares.
* Beatriz Fleming é trainee, com supervisão de Darlene Santiago