Apesar de considerar como positivo o balanço do setor em 2015, a coordenadora do CI Orgânicos, Sylvia Wachsner, lembra que o mercado de alimentos orgânicos no Brasil ainda é pequeno e continua em processo de formação FOTO: Russ Campbell
Em 2015, o mercado de orgânicos ganhou força graças ao crescimento da conscientização, por parte dos consumidores, sobre a importância dos alimentos saudáveis. “Podemos resumir que foi um ano bom para o setor”, conclui a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura, Sylvia Wachsner.
Essa consciência maior sobre a necessidade de valorizar a alimentação saudável pode ser notada com o surgimento de diversas iniciativas, entre elas, pequenos empreendimentos onde consumidores se unem para comprar alimentos diretamente dos produtores – o que favorece a diminuição de preços; a entrega de cestas em residências e a criação de plataformas de venda online.
“O comércio eletrônico cresceu, assim como os pequenos varejos que oferecem orgânicos. Já os grandes supermercados mantiveram ou ampliaram seus espaços dedicados a esses produtos”, observa Sylvia. “Além disso, diversas prefeituras aderiram às compras de alimentos orgânicos da agricultura familiar para a merenda nos estabelecimentos de ensino, no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar”.
Como se vê, a crise não chegou a abalar as estruturas desse mercado em ascensão. Para a coordenadora do CI Orgânicos, em 2015 “ficou bem claro que, cada vez mais, os consumidores procuram alimentos saudáveis, bons para a saúde e que sejam menos ultraprocessados. E os orgânicos gozam dessas vantagens”, assinala.
CRESCIMENTO
Até novembro do ano passado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) contabilizou no País 11.478 produtores orgânicos cadastrados. O crescimento maior está no número de produtores registrados como OCS (Organização de Controle Social). “O governo tem investido em programas de apoio e orientação aos agricultores orgânicos, sobretudo aos familiares, que representam a maioria dos cadastrados”, explica Sylvia, que critica a falta de um detalhamento maior nos registros feitos pelo MAPA.
CADASTRO INCOMPLETO
Nesse sentido, a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) tem cobrado das autoridades o incremento do cadastro dos produtores orgânicos.
“Temos de saber quantas toneladas colhemos dos principais produtos, como hortigranjeiros, grãos, mel, café, frutas, produção animal, etc. Precisamos saber quais são os alimentos produzidos pelos produtores cadastrados. O cadastro contém o nome do produtor, o CNPJ, o estado e o município, mas o que ele produz? São informações levantadas pelas certificadoras de orgânicos e que deveriam ser disponibilizadas pelo governo”, adverte Sylvia.
“Quando uma empresa deseja comprar alimentos orgânicos para revender no Brasil ou exportar, não tem onde consultar e começa uma via crucis pela falta de dados e informações”, complementa a coordenadora da SNA, chamando a atenção para outro antigo problema: “Não sabemos quanto o Brasil exporta pela falta de uma nomenclatura nos produtos orgânicos. Porque países vizinhos como Argentina, Chile ou Peru divulgam esses dados, e o Brasil não?
DESAFIOS
Apesar de considerar como positivo o balanço do setor em 2015, a coordenadora do CI Orgânicos lembra que o mercado de alimentos orgânicos no Brasil ainda é pequeno e continua em processo de formação. “É preciso considerar que a agricultura orgânica é uma atividade intensiva e requer mão-de-obra no manejo do solo e na produção, que é sazonal e de baixo volume”, destaca.
Dentro desse contexto, Sylvia concorda que há muitos obstáculos a serem superados. “Enfrentamos diversos desafios, entre eles, cadeias de fornecimento limitado, sobretudo de ingredientes, pouca disponibilidade de insumos para incrementar a competitividade, pouca mecanização e inclusive sementes orgânicas que possam oferecer novas variedades e mais rendimento aos cultivares”.
Além disso, a especialista afirma que falta pesquisa e divulgação no setor. “Os produtores se limitam a trocar conhecimentos entre si, e os canais de distribuição ainda estão em processo de desenvolvimento”.
Por Equipe SNA/RJ