Em entrevista, Roberto Guedes, médico veterinário e professor da UFMG, fala sobre o atual status sanitário da suinocultura mundial, avalia o sistema brasileiro de defesa sanitária ressaltando suas principais qualidades e deficiências, e aponta quais são as enfermidades mais preocupantes para o setor suinícola nacional
Sanidade, entretanto, é um assunto intrincado, que envolve responsabilidades díspares – dividida entre as esferas federal, estadual, municipal e a privada – e que, por isso, dificulta a realização de avaliações e julgamentos sem o risco de ser ou parecer injusto. Qualquer imprecisão e a repercussão será imediata, com desdobramentos que podem, inclusive, impactar o desempenho econômico-comercial do setor. Diante de todo esse “peso”, são poucos os que se dispõem a expor-se e abordar o tema sem amarras.
Esse definitivamente não é o caso do professor Associado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberto Mauricio Carvalho Guedes. Médico veterinário, mestre em Patologia Veterinaria, doutor em Patobiologia Veterinária e pós-doutor em Enteropatia Proliferativa, Roberto Guedes fala com desenvoltura quando o assunto é sanidade. Não há assunto proibido para ele. Roberto Guedes fala fácil, mas, mais do que isso, fala com propriedade. Na longa entrevista que cordialmente concedeu à Suinocultura Industrial, Guedes passeou por diferentes tópicos do tema, como as doenças emergentes e reemergentes na suinocultura, os impactos que elas vêm causando no setor, as enfermidades que mais ameaçam a suinocultura brasileira e o sistema de defesa sanitária no Brasil, entre outros. Os melhores trechos dessa conversa você confere a seguir.
Suinocultura Industrial – O surgimento de novos e o ressurgimento de velhos patógenos vêm trazendo vários impactos à produção suinícola mundial. Além dos casos de PED, da Peste Suína Africana, especialmente na Europa, o Delta Coronavírus Suíno e a TGE são outros exemplos de como novas e velhas doenças vêm desafiando a suinocultura mundial. Como o senhor avalia essa situação?
Roberto Guedes – Avalio com cautela. O Brasil tem um status sanitário diferenciado. E os grandes países produtores de suínos do mundo reconhecem isso. A suinocultura brasileira é livre de PRRS, TGE, PED e de várias outras enfermidades, além de caminhar para ficar livre da Peste Suína Clássica. Agora, não podemos nos iludir. A atual situação sanitária da suinocultura mundial é uma demonstração muita clara de que todo cuidado é pouco. Ela nos mostra que mesmo países com sistemas de biossegurança e de vigilância sanitária bem estruturados são suscetíveis à disseminação de patógenos e doenças relevantes. Cabe a nós brasileiros tomar isso como uma lição, porque estamos sob risco permanente.
SI – A emersão de doenças sempre existiu. Porém, a velocidade com que isso tem acontecido parece que aumentou. Na opinião do senhor que fatores têm favorecido o (re)surgimento e a disseminação de doenças na suinocultura?
Roberto Guedes – Um dos pontos mais importantes – e isso não se verifica apenas na área veterinária – é que hoje tudo é globalizado. A movimentação das pessoas de um país para outro, ou de um continente para outro, por exemplo, é uma questão de horas. É óbvio que cada um desses países adota seu sistema de vigilância de fronteiras, aeroportos, portos etc., mas como o volume de pessoas e de mercadorias é enorme, o risco de uma ocorrência sanitária é muito maior. É tudo uma questão de tonelagem, vamos dizer assim. Como o comércio internacional aumentou drasticamente, hoje todos os países estão sob um risco muito maior do que no passado. Outro ponto que precisa ser citado é a densidade animal. A estrutura do sistema produtivo mudou muito nos últimos 30 anos. Hoje as propriedades estão maiores e há utilização máxima das instalações. A densidade animal está no limite e tudo isso, de uma maneira ou de outra, propicia a disseminação muito mais rápida de enfermidades.
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