A região Norte é a principal porta, e Roraima é o Estado que apresenta maior número de registros
Já está demonstrado que as pragas podem ser introduzidas em áreas muito distantes de seus lugares de origem. No entanto, a proximidade física aumenta o risco de uma invasão. O desafio da vigilância sanitária no Brasil é grande, dada sua vasta fronteira com países vizinhos, com mais de 15,5 mil km de extensão, sendo uma parte por linha seca, outra ao longo de rios, lagos e canais.
Segundo Claudio Spadotto, gerente-geral da Embrapa Gestão Territorial, foram identificadas 364 vias de possível ingresso terrestre de pragas vindas de países vizinhos, em interseções da fronteira com estradas e rodovias, e 26 locais na região de fronteira passíveis de ingresso de pragas por meio de embarcações.
O pesquisador alerta que, devido ao grande número de aeródromos (519 aeroportos e campos de pouso e decolagem) localizados na faixa de fronteira, majoritariamente em propriedades privadas, é necessário um reforço na vigilância e no controle das possíveis entradas de pragas por transporte aéreo.
Atualmente, a região Norte é a principal porta de entrada das pragas quarentenárias no Brasil, e Roraima é o estado que apresenta maior número de registros. Um dos motivos da alta incidência desses organismos está no aumento do fluxo de mercadorias e pessoas circulando pelas fronteiras estaduais e internacionais dos estados da região Norte. Outros fatores que contribuem para esse cenário são a dificuldade de acesso e fiscalização, a falta de pessoal habilitado para identificação de espécies e o clima favorável ao estabelecimento de insetos e ácaros.
Há pelo menos 66 pragas quarentenárias ausentes já estabelecidas nos países que compõem a Bacia Amazônica – Equador, Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname, Colômbia e Peru, além do Brasil –, algumas com alto risco de entrada pela região.
Alerta sobre a presença de pragas próximas
Em um mapeamento realizado em parceria com a Embrapa e a Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento elencou algumas pragas quarentenárias como prioritárias para serem monitoradas pelo serviço de vigilância fitossanitária nas fronteiras. Como exemplos, podem ser citadas: monilíase-do-cacaueiro (Moniliophthora roreri), Striga (Striga spp.), ácaro-chileno-das-fruteiras (Brevipalpus chilensis) e Xanthomonas oryzae do arroz. A precaução leva em consideração a proximidade geográfica de ocorrência das pragas e a importância econômica das culturas agrícolas que podem ser infectadas.
Grandes áreas de cultivo próximo a rodovias, hidrovias ou ferrovias, na fronteira com países vizinhos e sem postos de controle do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagros), são catalogadas como pontos mais suscetíveis. É o caso de um longo trecho da fronteira entre a Bolívia e o estado do Mato Grosso.
Estudos mais específicos são realizados, como o diagnóstico feito pelos pesquisadores da Embrapa Gestão Territorial sobre os limites territoriais brasileiros para prevenção à entrada da mosca Prodiplosis longifila, uma praga quarentenária ausente. A Prodiplosis longifila causa grande prejuízo econômico no exterior e há relatos de sérios danos a cultivos de limão, tomate, batata, algodão, abacate, alcachofra, laranja, tangerina e feijão. Essa mosca neotropical está presente em países fronteiriços ao Brasil, como Colômbia e Peru.
Com os resultados gerados, foi possível indicar a priorização de ações de vigilância para controle de acesso e contingência em seis municípios acrianos e dois amazonenses.
Outra praga quarentenária que recebeu atenção dos pesquisadores da Embrapa Gestão Territorial para mapeamento das áreas de risco foi a Chilo partellus, mariposa nativa da Ásia responsável por vários prejuízos em cultivos de milho, cana-de-açúcar, arroz, sorgo e milheto.
Além das metodologias e resultados de trabalhos anteriores, utilizou-se o Índice Ecoclimático (EI) do potencial de estabelecimento da praga em todo o mundo e a localização dos postos de vigilância sanitária interestaduais. Os dados levantados permitiram identificar áreas vulneráveis na fronteira de Roraima, entre os estados de Mato Grosso e São Paulo e no litoral nordestino.