Com a entrada na fase de florescimento, a cultura fica mais suscetível à ação de pragas e o clima contribui para a incidência de doenças
Ainda é cedo para dizer como irá terminar a safra de soja 2016/2017, mas com o primeiro terço praticamente concluído a ocorrência de pragas e doenças se mantém sob controle. De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, Adney Bueno, a fase mais crítica para o ataque de insetos é o florescimento, que ainda está por vir. Enquanto que, no caso de doenças, Rafael Moreira Soares, fitopatologista da unidade, diz que é preciso ficar de olho no clima.
Pragas – “Por enquanto, o que nós tivemos foram ataques de lagartas. A helicoverpa aparecendo de forma mais pontual, claro que com algumas exceções, mas sendo controlada em populações menores por inimigos naturais. As lagartas do grupo Heliothis, lagartas das vagens, ocorrendo sem causar grandes prejuízos. E a falsa-medideira, também sob controle”, diz Bueno. Apesar do cenário favorável, ele não descarta uma mudança e necessidade de atenção, tanto para controle das lagartas como dos percevejos.
“As lagartas, se ocorrerem no período reprodutivo, são mais complicadas de controlar. Você tem a soja mais fechada e fica difícil aplicar inseticidas”, afirma o pesquisador. Durante o estágio vegetativo, é indicado esperar para fazer a aplicação com níveis de desfolha em torno de 30%, enquanto, no período de florescimento, o controle deve ser feito antes, com 15%.
E se a preocupação já existe desde o início do desenvolvimento da cultura em relação às lagartas, vai surgir logo mais quanto à incidência de percevejos. “Nas áreas plantadas mais cedo, o produtor já está entrando no período reprodutivo, então o que tem que fazer é estar presente com um técnico no campo e entrar com a aplicação de produtos químicos quando necessário”. A recomendação, segundo ele, não é aplicar nada preventivamente, mas monitorar as lavouras, e recorrer ao manejo integrado de pragas (MIP).
Além das lagartas, Bueno afirma que a mosca-branca também tem aparecido em lavouras de Mato Grosso e em áreas de soja mais ao Norte. “É uma praga que se aproveita dos cultivos hospedeiros, como tomate, feijão, e migra, em uma ponte verde, para a soja”.
No maior Estado produtor do grão no país, o diretor técnico da Aprosoja-MT, Nery Ribas, diz que a mosca-branca continua com seu comportamento tradicional. “Ela aparece de forma mais localizada no norte e no sul do Estado. Já as lagartas Spodopteras, em geral, estão presentes em Mato Grosso como um todo, e o percevejo é que vai aparecendo agora, na soja em fase de enchimento de grãos”, ele diz.
Doenças – Principal preocupação, a ferrugem asiática registra hoje nove focos em lavoura de soja comercial no Brasil. Um em Mato Grosso, registrado na semana passada; um em Mato Grosso do Sul; dois em São Paulo e cinco no Paraná. “A ferrugem está aparecendo cedo ainda para a gente, em função do clima favorável, quente e úmido, e dos esporos presentes no ar”, afirma Ribas.
Para lidar com a doença daqui para frente, a palavra de ordem é monitoramento. “Com o La Niña fraco e chuvas irregulares aqui no Paraná, o que queremos evitar é que o produtor faça aplicações precipitadas”, diz Rafael Moreira Soares. “O que não raro acontece porque, como a doença é agressiva, alguns preferem se prevenir a arriscar”. A indicação, no entanto, é monitorar a lavoura, como no caso das pragas. Fazendo o manejo adequado, o produtor aumenta a vida útil dos fungicidas e evita que os microrganismos criem resistência.
Até aqui, no Paraná, Soares também têm notado um aumento da incidência da podridão radicular de fitóftora. “O patógeno é um falso-fungo, que geralmente, em períodos mais chuvosos, infecta as raízes das plantas e pode causar sua morte”. Segundo ele, o que preocupa é que a doença tem condições de se manifestar em todas as fases da cultura, podendo ser evitada apenas no início, com a adoção de cultivares de soja resistentes ou manejo para descompactação do solo.