Horta pra que te quero
Procedência. Horta de Márcio Maciel, para quem o importante é saber a origem do alimento
Terapêutico. Romilda Ferreira construiu uma relação de intimidade com as plantações que cultiva
Produtos. Tomate-cereja é um dos alimentos que não faltam na horta de Romilda Ferreira
Assim, o cultivo de hortaliças e ervas aromáticas – em especial – é cada vez mais comum nos quintais de casas, em varandas de apartamentos e nas crescentes hortas urbanas que se espalham nas grandes metrópoles. Até mesmo na janela da sua casa. Consumir o que se planta virou rotina para muitas pessoas. É o caso da designer gráfica Romilda Ferreira, 46. Em sua horta, tem um pouco de tudo. “Tenho tomate-cereja, alface, rúcula, couve, cebolinha, espinafre, orégano, alecrim, hortelã, manjericão, salsinha…”, lista ela, que volta as suas raízes para justificar o desejo de ter a própria horta. “Aprendi com minha mãe a cultivar o próprio alimento. Minha família sempre teve sítios produtivos, e tudo que consumíamos vinha de lá. Aprendi a valorizar o que se planta”, relembra Romilda. Ela afirma que, no período em que viveu em um pequeno apartamento, “enlouquecia” com a impossibilidade ter sua própria horta. “Agora que moro em casa, pude realizar esse desejo”.
Para a designer, a experiência de cultivar alguns alimentos só traz benefícios, que vão além de conhecer a procedência daquilo que se está consumindo. “Primeiramente, porque é mais saudável, são produtos sem agrotóxicos. Segundo, o fato de colher o produto fresco e levar direto para a mesa é muito bom. Outra coisa bacana é a alegria de colher aquilo que se planta. Há um lado terapêutico nessa questão de cultivar. Na minha rotina, me levanto cedo, e a primeira tarefa é dar uma olhada na minha horta. Você cria uma intimidade com o que cultiva, vai entendendo o que o produto precisa. Além disso, o legal é que, mesmo na cidade, você fica mais próximo da natureza”, destaca.
O lado terapêutico também motiva o engenheiro Márcio Maciel, 66, a cuidar de sua horta com carinho e orgulho. “Tenho um grande prazer nisso. Gosto de ver as plantas crescerem, mexer nelas, podar, regar e, claro, colher o que planto”, conta ele, que cultiva em seu quintal couve, alface, pimentão, rúcula, além de uma variedade de ervas, como manjericão e salsa.
Atento ao hábito alimentar mais saudável, Márcio é enfático com as razões que o motivaram a criar uma horta. “Optei por morar em casa e não abri mão de ter uma horta para cultivar alguns alimentos. E a grande vantagem é saber o que você está comendo, a origem do produto que consome. Não é uma questão econômica, eu gosto muito de plantar, e a gente sabe a quantidade de agrotóxicos que muitos produtos carregam”, ressalta.
Comunidades. O crescente universo das hortas urbanas e caseiras também se reflete nas comunidades sobre o tema nas redes sociais, em especial no Facebook. No ambiente virtual, o grande número de comunidades e participantes demonstra o quanto essas práticas orgânicas e sustentáveis angariam adeptos dispostos a trocar experiências e valiosas dicas com quem se aventura no cultivo de sua própria horta.
Um desses grupos é o Hortelões Urbanos, comunidade do Facebook que conta com mais de 25 mil membros de todo o país. Participante do grupo, a bióloga paisagista Margarete Loures, 34, vê na agricultura urbana um esforço coletivo para melhorar a qualidade de vida das pessoas. “Ela possibilita o consumo de alimentos mais frescos e livres de agrotóxicos, reduz os gastos com a alimentação, gera renda, diminui a produção de lixo, cria espaços recreativos, fortalece as relações humanas, contribuiu para a melhoria do microclima, alimenta a fauna urbana e aproxima o homem da terra”, enumera.
Enquanto membro de uma comunidade na web, Margarete incentiva as pessoas a participar dessas iniciativas. “As hortas urbanas comunitárias já são uma realidade. As pessoas estão cada vez mais conscientes sobre a produção dos alimentos e, por isso, estão buscando alternativas mais saudáveis para elas e para todo o ecossistema”, afirma.
Também membro do Hortelões Urbanos, João José Barral, 44, destaca os benefícios de cultivar sua própria horta e reforça o uso da web para ampliar o conhecimento e compartilhar experiências. “Com sua horta, todo dia você tem o que colher, e de muito melhor qualidade. E a internet fornece muita informação para quem quer começar”, opina.
NÃO COMPRE, PLANTE!
Iniciativa para tornar a cidade mais verde
Com o intuito de discutir e difundir o uso de espaços urbanos para a criação de hortas e o cultivo agroecológico, uma iniciativa chama a atenção em Belo Horizonte. Trata-se do Verde Comunitário, projeto de extensão do curso de ciências biológicas do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix.
Coordenado pela bióloga e professora da instituição Marina Alvim, o projeto consiste em um mapeamento das hortas urbanas de Belo Horizonte e da região metropolitana. “A ideia surgiu ao vermos que as pessoas perderam a ligação com o campo, achando que a agricultura, o cultivo de alimentos, é algo distante, tecnológico. A proposta, então, é fomentar o cultivo dentro da cidade. Mostrar que é possível ter esse hábito em nossas vidas”, diz Marina, que explica que o projeto nasceu no início de 2014 e conta com a participação dos alunos da graduação do curso.
O mapeamento é realizado de forma espontânea, onde qualquer pessoa pode contar sua experiência – vale até um pequeno vaso de hortelã na sua janela – pelo portal da iniciativa (hortasurbanasbh.crowdmap.com). “Além desse mapeamento, promovemos outras atividades, como oficinas de capacitação para as pessoas que querem cultivar suas hortas, formando multiplicadores de práticas sustentáveis, e a revitalização de quintais urbanos”, ressalta Marina.
Para a coordenadora do projeto, iniciativas como o Verde Comunitário e o crescimento de hortas urbanas nas grandes cidades revelam, também, um anseio em garantir uma segurança alimentar para as pessoas, em contraponto ao consumo de alimentos geneticamente modificados promovido pelo agronegócio – e chancelado pelo projeto de lei que acabou com a exigência de rotular produtos que utilizam transgênicos.
“A população tem que ser esclarecida sobre o que está comendo. Consumir o que cultiva, além de garantir uma alimentação mais saudável, traz outros benefícios para as pessoas, como o aspecto psicológico, com o cuidado com as plantas, a troca de energias. Há outro aspecto importante, que é trazer o verde para a cidade”, afirma Marina, que vê com bons olhos o que vem adiante. “Acho que o nosso futuro é mais verde. Recebo muitos contatos de pessoas que querem ganhar conhecimento sobre o tema”, destaca a professora.
FRUTÍFERO
Ação incentiva criação de pomares domésticos
O governo de Minas, por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), tem distribuído mudas de árvores frutíferas, que vão de espécies como acerola, limão tahiti, laranja pera rio, goiaba, mexerica ponkan, manga palmer, coco anão, figo, pêssego, abacate, laranja bahia, banana prata e caqui. A iniciativa pretende beneficiar cerca de 30 mil famílias de pequenos agricultores. O programa de fomento à formação de pomares domésticos recebeu investimento de aproximadamente R$ 3 milhões. Cada agricultor recebe um kit com até 12 mudas de espécies variadas. Antes da distribuição, foi feito um levantamento das demandas de cada região.
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