Marcada por extremos climáticos, colheita ganhar ritmo na região. Avanço revela disparidade nos rendimentos, mas regularização das chuvas promete elevar médias em MT e MS
Nova Mutum (mt) e Naviraí (MS)
Confira imagens da Expedição Safra
Durante um roteiro de 6,5 mil quilômetros cumprido nos dois estados na última semana, os técnicos e jornalistas do projeto puderam conferir no monitor das colheitadeiras médias na casa das 30 sacas de soja por hectare em áreas danificadas pela seca e, na ponta oposta, picos de mais de 70 sacas/ha em regiões que foram bem servidas de chuva. “As perdas foram severas, mas pontuais”, aponta o superintendente do Instituto Mato-grossense se Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca Ferreira. Ele explica que as primeiras semanas de plantio, entre setembro e outubro, foram prejudicadas pela falta de umidade e que o desenvolvimento de muitas dessas áreas também foi afetado por chuvas irregulares em novembro e dezembro.
De uma forma geral, pontua o dirigente, há dois polos de problemas em Mato Grosso: um no Médio-Norte e outro no Nordeste do estado. Perdas na primeira região tendem a pesar bastante nos números estaduais, já que perto de um terço da soja mato-grossense é cultivada nesta área. Menos representativa, a segunda região é considerada uma área de fronteira, onde a oleaginosa começou a entrar em áreas de pastagem degradas há apenas poucos anos. “Mas mesmo dentro destas duas macrorregiões as perdas não foram generalizadas”, pondera Ferreira, acrescentando que um clima mais ameno tem resultado em boas produtividades no Sudeste, Centro-Sul e Oeste do estado, balanceando parte das perdas.
Com cerca de 15% da soja colhida, Lorenei Busa contabiliza média de 40 sacas por hectares nas fazendas que gerencia em Nova Mutum, no Médio-Norte do Estado. “Nossas melhores áreas foram afetadas pela seca. Teve talhão rendendo 15 sacas/ha, e outros com 62 sacas/ha”, conta. Com menos altos e baixos ao longo da temporada, Erni Hugo Hack se prepara para dar início aos trabalhos com expectativa de igualar a média do ano anterior, de mais de 60 sacas por hectare. Lavouras bem formadas em ponto de colheita e uma rodada de boas chuvas na última semana de janeiro nas áreas ainda verdes reforçam a perspectiva de boa colheita na propriedade que mantém em Campo Novo do Parecis, no Oeste mato-grossense.
MS registra perdas, com esperança de dias melhores
A disparidade entre os resultados alcançados em áreas relativamente próximas também é a marca da temporada no Mato Grosso do Sul. Castigada por chuvas praticamente ininterruptas de setembro de 2015 até o início de janeiro de 2016, a região Sul do estado, que concentra a maior parte das lavouras sul-mato-grossenses, contabiliza perdas nas colheitas iniciais, mas espera recuperação dos índices de produtividade com o avanço dos trabalhos.
Com a safra semeada em solos encharcados, o sistema radicular das plantas não se desenvolveu bem e, com pouca abertura de sol entre uma chuva e outra, resultou em grãos pequenos e mais leves, comprometendo o rendimento da soja precoce, conta o produtor Nelson Antonini, de Naviraí. Já as lavouras mais tardias, que atravessaram um período seco na segunda quinzena de janeiro, puderam recuperar parte de seu potencial produtivo com o retorno das chuvas à região na semana passada. Na média, ele espera fechar a temporada com média de 55 sacas por hectare – produtividade próxima à obtida na safra anterior mais abaixo das 60 sacas/ha projetadas no início do ciclo.
Beneficiados por um regime de chuvas mais regular ao longo da temporada, produtores do Norte de Mato Grosso do Sul, região que concentram cerca de 30% das lavouras estaduais, esperam bons rendimentos. Em São Gabriel do Oeste, Claudir José Balzan, mantém expectativa de retirar dos campos até 70 sacas de soja por hectare neste ano, média similar à obtida no ano anterior.
Jonathan Campos/Gazeta do Povo