Programa Alfa, promovido pelo Senar-RS, chegou a 49 sindicatos rurais do Interior do Rio Grande do Sul, em um total de 189 turmas e 2.763 participantes na edição de 2015
Quando Solange Rodrigues, aos 38 anos, começou a frequentar as aulas do programa Alfabetizando para Profissionalizar (Alfa) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), em abril de 2015, ela ainda não sabia ler por completo. “Já tinha estudado um pouco, mas não conseguia ler a palavra toda, só as letras. Agora, estou aprendendo”, conta a moradora de Ilópolis, no Interior do Rio Grande do Sul. Desde cedo trabalhando com carregamento de frango, ela lembra que nunca teve a oportunidade de se dedicar aos estudos porque as aulas colidiam com os horários de trabalho.
O Programa Alfa é oferecido pelo Senar-RS em parceria com os sindicatos rurais do Estado e há 16 anos promove a alfabetização gratuita dos trabalhadoresdo campo e seus familiares. Depois de ver seu marido participando da edição de 2014 do Alfa, Solange decidiu procurar o curso neste ano, e vai continuar em 2016. “Quero fazer de novo para sair lendo bem, sem gaguejar e sem precisar juntar as letras”, conta. Para ingressar no curso, os alunos devem ter mais de 18 anos e escolaridade incompleta – realidade de grande parte dos agricultores, que geralmente acabam cursando as séries iniciais e deixando a sala de aula para poder se dedicar por completo ao trabalho.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo continua maior na zona rural do que nas cidades. Considerando todos os maiores de 10 anos, o percentual de analfabetos nas cidades passou de 9,6%, em 2000, para 6,8%, em 2010. No campo, nesses 11 anos, o índice caiu de 27,7% para 21,2%. No entanto, no mesmo período, entre as pessoas de 10 a 14 anos, a redução do analfabetismo no campo ocorreu de forma mais acentuada. Passou de 16,6% para 8,4% – queda de 49,39%. Nas cidades, levando em consideração a faixa etária no período, o percentual de analfabetos caiu de 4,6% para 2,9% – redução de 36,95%.
Iniciativas como o Alfa ajudam a erradicar o analfabetismo, além de proporcionarem uma vivência de fácil acesso aos alunos, já que as aulas são oferecidas nas comunidades dos agricultores. “E elas acontecem geralmente no período da noite, que é quando não tem atividade de campo, mas eles que decidem qual é o melhor horário para cada turma”, explica Sandra Catarina Vieira, coordenadora de promoção social do Senar-RS. Cada turma tem, no máximo, 20 alunos, que juntos podem definir quais os melhores dias para as aulas. Já os professores que ministram o curso são credenciados por meio do sindicato de trabalhadores rurais e é exigido que eles já tenham trabalhado com a alfabetização em séries iniciais.
Na edição de 2015, o programa chegou a 49 sindicatos, em um total de 189 turmas e 2.763 participantes. De acordo com Sonia, a expectativa é de que, no próximo ano, 3.100 alunos sejam beneficiados com as 210 horas de alfabetização – que acontecem sempre de abril a outubro. Os sindicatos ainda não cadastrados no programa podem buscar o Senar-RS e manifestar interesse. “O ideal seria que todos os municípios tivessem acesso ao curso, já que ele melhora a condição social e cultural do agricultor”, avalia Sandra.
O Alfa é reconhecido pela Unesco como projeto social e também pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), em âmbito estadual e nacional, com o prêmio Top Cidadania ABRH. Uma vez alfabetizados, os alunos são estimulados a procurar outros cursos de capacitação do Senar, que incentivam formação profissional e social nas áreas de agricultura e pecuária. “A ideia é que o Alfa seja só o começo e que eles sigam estudando e busquem novos aprendizados”, destaca Sandra.
Jornal do Comércio