A colheita de milho da safra de verão avança no Brasil mas tem sido incapaz de derrubar os preços do cereal no mercado doméstico, pressionando produtores e indústrias de aves e suínos que contam com o grão como base da ração animal.
Os preços do milho atingiram em meados de janeiro uma máxima nominal histórica, aquecidos por fortes exportações e alta do dólar, e desde então não recuaram.
A saca de 60 kg do milho foi negociada a 43,2 reais na terça-feira, alta de 50 por cento ante 12 meses atrás, e muito perto da máxima histórica de 43,46 reais registrada em 21 de janeiro, segundo o Indicador Esalq/BM&FBovespa, que serve de referência para o mercado físico e para contratos negociados em bolsa.
Ao mesmo tempo, a colheita da primeira safra de milho da temporada 2015/16 está em pleno andamento no Sul do país, principal região produtora nesta época do ano e que concentra boa parte das granjas de aves e suínos do país.
A colheita já alcança 38 por cento da área plantada no Rio de Grande do Sul e 24 por cento no Paraná, segundo dados de órgãos estaduais.
“O preço não tem cedido em nada, mesmo com a entrada mais forte da colheita de milho no Sul do Brasil”, disse o conselheiro de Relações com o Mercado da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos, Valdecir Folador.
Segundo ele, os custos com insumos –dentre os quais o milho é o mais importante– estão bem acima dos preços pagos pelos animais.
No Rio Grande do Sul, sua região de atuação, Folador estima que o custo de produção de suínos está em 3,80 reais por quilo, ante uma receita líquida de 2,80 reais na venda aos frigoríficos.
“Para a avicultura e suinocultura está muito ‘puxado’. Aqui no oeste catarinense a safra de milho já se esgotou”, disse o diretor de compras da cooperativa Aurora, Jacó Ritter, responsável pela originação em uma das maiores produtoras de aves e suínos do Brasil, com consumo de quase 1,4 milhão de toneladas de milho por ano.
Em meados de janeiro, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa indústrias de aves e suínos do país, incluindo gigantes globais como BRF e JBS, já alertava que a colheita da primeira safra do cereal poderia ter tamanho pequeno para atender às necessidades do país, entre exportações e consumo interno.
O governo federal prometeu, no início deste ano, leiloar 500 mil toneladas de estoques públicos para tentar esfriar o mercado.
Já foram realizados 3 leilões ao longo de fevereiro, ofertando cerca de 447 mil toneladas, encontrando compradores para 240 mil toneladas, ou 54 por cento do total.
A explicação para a demanda menor que o esperado, segundo analistas, está em questões técnicas e não na ausência de demanda. Itens como qualidade de alguns lotes, localização das cargas, preço inicial relativamente elevado e necessidade de pagamento ao governo em 48 horas teriam afugentado alguns compradores.
Na opinião do sócio-proprietário da corretora Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin, haverá pouco espaço para alívio nos preços de milho neste ano, após exportações recordes em 2015 e com as cotações futuras de milho e do dólar apontando para novas altas.
“A combinação de carry na CBOT (curva ascendente dos preços do cereal no mercado futuro) e a forte inclinação da curva a termo do câmbio deve enxugar o mercado novamente… O Brasil vai exportar tudo que der novamente esse ano”, disse ele.
Fonte: Reuters/Uol