Dourados (MS) – Montar uma coleção pode ser hobby para alguns, mas para os pesquisadores da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) é trabalho sério. Eles organizaram um museu de peixes de diversas bacias dos rios de Mato Grosso do Sul para saber quais peixes já estão identificados e classificar espécies ainda desconhecidas.
O museu tem como objetivo ter uma coleção de referência de representantes de peixes do Estado, “o número de espécies de peixes registradas no MS até hoje é de 356 espécies, incluindo as bacias do Alto Paraná e Paraguai, na nossa coleção temos 217 espécies de peixes registradas em rios e riachos, mas ainda falta organizar as da planície pantaneira, então acredito que vamos nos aproximar de 300 espécies”, disse o coordenador do projeto, Yzel Rondon Súarez.
Os pesquisadores da UEMS trabalham, principalmente, na porção sul do Estado, nas bacias do Rio Ivinhema (que abrange o Rio Dourados, Brilhante e Vacaria), Amambai, Iguatemi, Miranda e Apa. Também estão começando parcerias para obter peixes do rio Sucuriú e Rio Verde, entretanto as espécies da região do Pantanal foram pouco identificadas.
Atualmente, no Estado o objetivo dos pesquisadores é integrar as informações para poder identificar os peixes que existem em cada rio ou em mais de um rio. “Neste momento nós não temos a informação de peixes que existiam há anos atrás e agora não existem, porque há muitas regiões do Estado que nunca foram coletadas. Então se não sabemos nem o que tem, não tem como saber quais espécies perdemos ou estamos perdendo. Nós temos grandes lacunas no Estado de coletas, então tem grande áreas que simplesmente a gente não tem nenhuma informação do que existe”, explicou o professor.
Pelo projeto Biota MS, que visa unir pesquisadores do Estado, a UEMS tem parceria com professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em Campo Grande e de Três Lagoas, da Uniderp, além da Universidade Estadual de Maringá, do museu de zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Antes da organização do museu todo material coletado era depositado em outras coleções, sendo que o grupo de pesquisadores da Universidade é responsável por cerca da metade das coletas já registradas no Estado. “O museu é uma forma de buscar representar a biodiversidade tanto para a continuidade dos trabalhos, quanto para poder servir de um registro para novos estudos no futuro e para pesquisadores que se interessem pela nossa biodiversidade. Toda vez que levamos este material para outros museus os pesquisadores se interessam, porque temos espécies aqui que não se encontram em outros locais, tanto pela raridade, quanto pelo fato da amostragem aqui ser praticamente inexistente”, mostrou Súarez.
Contudo, muitas espécies podem deixar de ser conhecidas, pois, além da expansão da agropecuária, hidrelétricas devem ser construídas em locais onde há pouca informação sobre as comunidades aquáticas. “Uma preocupação que temos é que várias centrais hidrelétricas que existem ou que estão aprovadas para começar a construção no Estado estão em locais onde ainda não existem registros de amostragens de peixes, então precisamos realizar estudos antes que estas usinas comecem a funcionar e a gente possa perder as espécies que ocorrem ali”, disse o pesquisador da UEMS.
Participam do projeto os alunos Fabiana Silva Ferreira (mestranda no PGRN), Élida Jerônimo Gouveia (acadêmica do 4º ano de Ciências Biológicas) e Djalma Pereira Moraes (biólogo egresso da UEMS e Bolsista do Programa Biota).
Veja algumas espécies raras:
Scoloplax empousa – conhecido como bagrizinho – é raro, tem registros em quatro locais – É encontrado em córregos com bastante lodo, principalmente na região de Nova Alvorada do Sul e Ivinhema.
Paravandellia – conhecido como Peixe vampiro – por ser considerado um parasita de outros peixes. Ele é difícil de ser encontrado, pois fica enterrado na areia durante o dia e sai à noite para se alimentar.