Escolaridade alta, independência financeira, abertura à inovação e comunicação e visão ampla no negócio. Estas são algumas características da mulher que atua no agronegócio brasileiro, segundo pesquisa inédita que revelou que 57% das entrevistas participam ativamente de sindicatos e associações rurais, 60% possuem curso superior completo, 55% acessam a internet todos os dias, 88% se consideram independentes financeiramente, sendo que 14% contribuem mais em casa que o parceiro.
O estudo realizado pela Fran6 Pesquisa em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pela PwC, sobre o perfil da mulher do agronegócio, entrevistou 301 gestoras (pesquisa quantitativa) da produção agropecuária de todas as regiões brasileiras, especialmente do Sudeste (74%), do Centro-Oeste e do Sul, além mulheres líderes do setor (pesquisa qualitativa).
O resultado da pesquisa foi apresentado no Congresso Nacional de Mulheres do Agronegócio, em São Paulo, capital, nos dias 25 e 26 de outubro, e reuniu cerca de 750 participantes, entre agricultoras, pecuaristas, profissionais da indústria, executivas de entidades e empresas do setor.
Segundo Adélia Franceschini, presidente da agência de pesquisa de mercado Fran6 e responsável pela primeira pesquisa do perfil da mulher do campo, 42,4% participam da renda familiar no campo frente a 40,7% que vivem na cidade. A maioria das mulheres dirigentes está na agricultura (42%), seguida pela pecuária (20%) e outras atividades relacionadas ao agro (agroindústria e setor de insumos).
“Cada vez mais, a mulher está na liderança dos negócios do agro, tomando decisões e se preparando, seja por meio de cursos de capacitação ou cursos superiores de graduação e pós-graduação, e se preocupa com a sucessão familiar e com o meio social em que está inserida”, informa Adélia.
Segundo a executiva, as mulheres têm um perfil ativo nas redes sociais e consideram essa interação importante para sua atuação profissional. “Ao contrário de grande parte dos homens, as mulheres não têm vergonha de pedir ajuda e, por isso, expõem seus problemas no campo para buscar soluções mais rapidamente.”
Na visão de Adélia, “mesmo com toda resistência, as mulheres do agronegócio são antenadas e competentes, e a tendência é aumentar a presença feminina no campo, o que é fundamental para mudar o setor”.
PROBLEMAS
Conforme o estudo, cujos dados foram apurados entre novembro de 2015 e abril de 2016, 67% das mulheres do agro não sentem que o espaço dado a elas seja igual ao dos homens. Além disso, a pesquisa revela que 71% das entrevistadas já enfrentaram problemas na liderança rural.
Uma das principais reclamações é não serem levadas a sério pelos seus funcionários (43%), além de encontrar resistência da família ao se interessar pelo negócio (41%) e dificuldade em ter um relacionamento estável pelo fato de ser trabalhadora (24%).
A médica veterinária Maria do Rosário Cardoso Cansado, proprietária das fazendas Gir do Cerrado e Raposo, em Bom Despacho, MG, conta que encontrou alguma resistência pelo fato de ser mulher. “Nas fazendas, para as quais eu dou assistência veterinária, os homens me puseram muito à prova, questionando a minha capacidade, mas isso é passado e hoje já não tenho mais problemas nesse sentido, já me posicionei”, garante.
COMANDO
Dados recentes da Organização das Nações Unidas indicam que 27% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2006), a relação de liderança no estabelecimento rural é de uma mulher para nove homens na mesma função, o que mostra que 87,3% do comando é do sexo masculino e 12,7% do feminino. Ainda de acordo com o órgão 656 mil mulheres estão na liderança das propriedades rurais, o equivalente a pouco mais de 5 milhões.
“Acredito que este número seja maior, pois muitas mulheres estão nas lideranças das suas propriedades, mas não têm essa percepção”, afirma Teresa Cristina Vendramini (Teka Vendramini, como é conhecida), presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), que reúne 25 mulheres de diversos Estados brasileiros.
UNIÃO
A Comissão de Produtoras Rurais da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) foi criada com o objetivo principal de mostrar para as mulheres que união é o melhor caminho para o sucesso e para conquistar espaço em um universo ainda predominantemente masculino.
Presidente da Comissão há 16 anos, Zenia Aranha da Silveira conta que realizou vários seminários, fóruns, visitas técnicas e dias de campo para capacitar as mulheres no agro. Para cumprir o objetivo do grupo de produtoras rurais, ainda foi realizado um diagnóstico da realidade feminina no campo.
“Percebemos muita dificuldade das mulheres em administrar suas propriedades, por falta de informação, principalmente”, conta Zenia.
Por equipe SNA/SP