A utilização de biocarvão nos pastos e no reflorestamento pode alavancar a produtividade das plantações. A conclusão faz parte de uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), em parceria com a Embrapa Agrobiologia e o Norwegian Geotechnical Institute (NGI), na Fazendinha Agroecológica, localizada na Embrapa, em Seropédica/RJ, e mostra que o pasto enriquecido com biocarvão apresenta maior produtividade do que apenas com o adubo tradicional.
Durante dois meses, pesquisadores testaram o biocarvão em duas espécies de pastagens, Brachiaria e Panicum, e as amostras analisadas comprovaram que um metro quadrado de pasto com biocarvão cresceu mais do que o pasto apenas com adubo tradicional, uma diferença de 9,5% em relação ao peso das amostras: 322,7 gramas com biocarvão, contra 294,8 gramas sem este adubo. Em outra área, associaram biocarvão a fertilizante e inoculante e o peso do capim utilizado nos testes passou a 416,20 gramas, um incremento de 41%.
“Os resultados mostram que o biocarvão pode ter enorme potencial para aumentar a produtividade e, principalmente, ser utilizado em associação, já que potencializa a ação do fertilizante e inoculante. Vimos ainda que ele pode melhorar várias características chave dos solos, como aumentar teor do carbono, reduzir acidez e melhorar a capacidade de retenção da água. É uma inciativa que pode aumentar a produtividade e o lucro e reduzir custos, o que pode ser muito importante para a agricultura orgânica”, explicou Agnieszka Latawiec, diretora de Pesquisa e Projetos no IIS e a coordenadora do projeto.
Os agricultores que atuam no entorno da fazenda serão convidados a participar do projeto. Em novembro desse ano começarão os experimentos com agricultores, que testarão várias espécies de gramíneas forrageiras. O pesquisador em Restauração de Áreas Degradadas da Embrapa Agrobiologia, Luiz Fernando Duarte de Moraes, ressalta a importância da pesquisa que o IIS desenvolve com a Embrapa. “Um dos diferenciais de nossa pesquisa é a avaliação de formas alternativas de produção de biocarvão, que podem ser adotadas de acordo com o perfil da propriedade rural. Além disso, avaliamos a possibilidade de uso do biocarvão na agricultura orgânica, ou em pequenas propriedades onde predominam as práticas agroecológicas”, disse.
Outro projeto do IIS em colaboração com a Associação do Mico Leão Dourado testa o uso do biocarvão na produção das mudas de espécies nativas em viveiros. Dentre outros benefícios potenciais, o biocarvão poderia auxiliar na retenção da água e na sobrevivência das mudas, o que é muito importante não só para o proprietário do viveiro, mas também para sucesso do reflorestamento.
Produção do biocarvão
Para esta primeira iniciativa, foi produzido biocarvão com a espécie vegetal gliricidia. O material é colocado em forno próprio, destinado para a produção de biocarvão. Após aceso e iniciado o processo de combustão, o forno é vedado evitando a entrada de oxigênio no processo de produção. O produto é em seguida armazenado num local seco e protegido da chuva, para então ser incorporado ao solo.
Até agora, os experimentos foram feitos com três tipos de fornos: ‘de chão’, ‘latão’ e ‘quadrado’ (ou ´de tijolo’). O forno “de chão”, considerado o modelo mais simples de todos, é também o mais recentemente testados pelos pesquisadores. Trata-se de uma sugestão feita pelo professor Gerard Cornelissen, do NGI, durante o workshop “Paisagens Sustentáveis”, ocorrido no IIS em março. Neste forno, o biocarvão é produzido em menos de 24 horas e o material lenhoso forma uma camada que permite a saída da pouca fumaça. Os outros tipos de fornos, também estão em fase de testes, são: “latão”, uma inovação elaborada por Reginaldo Carvalho, técnico de campo do projeto, e que se mostrou até o momento ser o mais eficiente; e o “quadrado”, cujo processo de queima é o mais demorado – cerca de três dias.