A população ideal de forrageiras no cultivo consorciado de milho braquiária é um dos principais fatores para o sucesso do cultivo no Sul do Mato Grosso do Sul e Oeste do Paraná. Pesquisas da Embrapa Agropecuária Oeste revelaram que a quantidade de sementes de forrageiras utilizadas nas lavouras tem sido maior do que a quantidade necessária, prejudicando o desenvolvimento das plantas consorciadas.
O uso do cálculo da taxa de semeadura ideal de forrageiras em produção consociada de milho com braquiária possibilita redução no custo de produção, contribuindo para o estabelecimento da população adequada de forrageiras e impactando positivamente os resultados esperados.
A utilização de sementes forrageiras em maior quantidade do que o necessário, faz com que o excesso da população de braquiária prejudique o milho. Essa prática pode estar associada as formas de beneficiamento das sementes que reduziam a taxa de germinação e o vigor, que afetava negativamente o estabelecimento das pastagens. Devido a isto, o plantio precisava ser efetuado com maior quantidade de sementes para que a população final almejada fosse alcançada.
Com a evolução no uso de tecnologias no beneficiamento de sementes que eliminam a maior parte das impurezas que acompanham o lote de sementes transformou esse cenário. A legislação brasileira estabelece valores mínimos de “Pureza” e de “Germinação”, sendo ambos os componentes que determinam o “Valor Cultural”, ou seja, o VC de um lote de sementes. Enquanto a “Pureza” está relacionada à porcentagem da espécie de interesse no lote, na amostra para análise, a “Germinação” indica a porcentagem dessas sementes puras que germinam e originam plântulas normais.
O engenheiro agrônomo da Embrapa Agropecuária Oeste, Gessi Ceccon, exemplifica a importância destas características da seguinte forma: um lote com VC= 50% significa que em cada embalagem de 10 kg de sementes, somente 5 kg são de sementes que poderão originar plântulas. As demais sementes do lote não terão sucesso no estabelecimento.
Para auxiliar os produtores na hora de calcular a quantidade de sementes necessárias, ou seja, fazer o cálculo da taxa de semeadura das forrageiras, tanto em cultivo solteiro quanto em consórcio com milho, é preciso identificar qual a população desejada de plantas.
Tendo esse objetivo em mente, Gessi aliou sua experiência de anos de dedicação ao trabalho com o consórcio milho braquiária ao seu potencial criativo e desenvolveu uma equação matemática inovadora que estabelece a taxa de semeadura ideal para uma lavoura consorciada de milho com braquiária. A fórmula tem a finalidade de definir a quantidade de sementes a ser utilizada para que haja o estabelecimento de densidade adequada de plantas nas lavouras que utilizam o consórcio milho-braquiária, considerando os parâmetros de pureza e de germinação do lote de sementes adquirido pelo produtor. Por meio desse cálculo, o produtor poderá evitar excesso ou falta de pastagens, aumentando a garantia de sucesso do plantio, reduzindo prejuízos financeiros, evitando retrabalho e contribuindo com a adoção e/ou expansão do sistema de produção consorciada.
Segundo Gessi, esse cálculo pode ser utilizado em dois momentos: na compra das sementes, junto ao vendedor, para saber quanto de sementes deverá ser adquirida para a lavoura; e no momento da semeadura, para ajustar a população desejada de plantas.
“De modo geral, o parâmetro utilizado para comercialização de sementes de forrageiras é o Valor Cultural (VC) e, para a semeadura, tem sido utilizado o número de sementes puras viáveis (SPV) ou pontos de VC. No entanto, esses dois parâmetros consideram apenas a relação entre pureza e germinação das sementes, com base apenas na sua viabilidade, que é informada pelo teste de tetrazólio. Esses critérios não consideram o vigor das sementes, que representa a capacidade das sementes germinarem em condições de campo e se transformarem em plantas”, explica Gessi.
“A tecnologia envolvida na produção de sementes de forrageiras proporcionou mudanças positivas que culminaram na melhoria da qualidade das sementes comercializadas. Assim, a quantidade de sementes que se utilizava anteriormente não é mais necessária. Ou seja, quanto maior a qualidade da semente menor deverá ser a sua quantidade. Hoje, o produtor precisa levar em consideração tanto a qualidade da semente que será comprada quanto a população desejada de plantas, especialmente quando estiver trabalhando com consórcio de milho com braquiária”, esclarece Gessi.
Segundo ele, outro fator desconsiderado é a quantidade de sementes por unidade de peso (peso de mil sementes), que também deve ser considerado no estabelecimento de plantas, a fim de evitar comparações desiguais entre espécies com diferentes quantidades de sementes por unidade de massa.
Com isso, a quantidade aproximada de sementes necessária para ajustar a população desejada de plantas da forrageira, pode ser obtida com a seguinte equação:
Taxa (kg/ha) = | POP x PMS |
VCG |
em que:
POP é a população desejada de plantas por metro quadrado;
PMS é o peso de mil sementes da forrageira; e
VCG é o valor cultural de germinação (%), obtido em areia ou em solo semelhante ao que será utilizado na semeadura.
A taxa será em quilogramas (Kg) de sementes comerciais por hectare. Exemplificando: para semeadura de um hectare de B. ruziziensis, com população de 10 plantas por metro quadrado; peso de mil sementes de 5,55 gramas e valor cultural de germinação de 60%, seriam necessários:
Taxa = | 10 x 5,5 | = | 55 | = | 0,916 quilogramas (Kg) por hectare |
60 | 60 |
Para o encarregado do Departamento Técnico da Coamo, de Dourados/MS, Fernando Mignoso, o cálculo da taxa de semeadura de forrageiras em produção consorciada contribui positivamente com o sistema. Segundo ele, alguns produtores ainda não conseguem semear a quantidade adequada de sementes, devido ao sistema operacional utilizado, pois algumas plantadeiras não apresentam possibilidade de regular a distribuição das sementes, porém os produtores que utilizam equipamento para plantio de trigo, por exemplo, já estão sendo beneficiados pelo cálculo. “O sistema aporta muita palha a lavoura, o que apresenta inúmeros benefícios, inclusive, para a safra posterior”, ressaltou.
Qualidade das sementes – No momento da escolha do tipo de semente que deverá ser utilizada para a produção de forrageiras, o produtor deve avaliar a qualidade, qual o perfil da propriedade rural e as necessidades de produtividade. Segundo Gessi, trabalhar com uma planta não adequada a um solo mais exigente, por exemplo, pode acarretar em prejuízos e demandar uma quantidade maior de adubos.
O uso de sementes revestidas surgiu com o objetivo de aumentar o peso das sementes forrageiras para facilitar sua plantabilidade, pois originalmente são leves e se dispersam com facilidade. Atualmente, as sementes revestidas contribuíram com a elevação dos níveis de pureza das mesmas e, por meio dessa tecnologia, as espécies forrageiras utilizam o mesmo maquinário disponível para as grandes culturas. “Essas sementes passam por processos de tratamento prévio com fungicidas, inseticidas, macro e micronutrientes, promotores de crescimento e inoculantes. Isso proporciona proteção e segurança para o estabelecimento de pastagens”, explica Gessi.
Segundo ele, alguns produtores ainda enfrentam resistência na hora de comprar uma semente revestida devido ao valor mais elevado, demandando maior investimento nessa compra. Mas, com o uso do cálculo de taxa de semeadura em que a quantidade de sementes será ajustada à necessidade da lavoura e seus objetivos, o produtor vai demandar uma quantidade menor de sementes, o que torna a compra de sementes com alto grau de tecnologia plausível, mesmo que ela tenha preço mais elevado por quilo.
“O Brasil possui o maior plantel comercial de bovinos do mundo, com mais de 200 milhões de animais e a maior área de pastagens do planeta. Cerca de 80% das pastagens está com algum grau de degradação. A escolha da semente de forrageira adequada e de qualidade pode contribuir com a redução dessa degradação”, explica Gessi. E acrescenta que o processo tem início com a seleção da variedade de forrageiras que será utilizada, que deve levar em consideração a condição de solo, clima, adubação, irrigação e objetivo do cultivo (palhada ou alimentação de animais), dentre outros aspectos.
Consórcio Milho Braquiária – A semeadura de uma forrageira em lavoura da sucessão soja-milho safrinha, tem sido utilizada para formação de pastagem para alimentação de animais, principalmente na época da seca. Essa pastagem, quando semeada solteira após a colheita da soja, permite o pastejo de maio a setembro e, quando semeada em consórcio com milho safrinha, proporciona pastejo nos meses de agosto e setembro, justamente nos meses de menor oferta de pasto nos campos de pecuária.
Para apresentar informações aos produtores interessados em conhecer o Consórcio Milho‑Braquiária, a Embrapa Agropecuária Oeste publicou recentemente uma Série Documentos, nº 131, intitulada “Implantação e manejo de forrageiras em consórcio com milho safrinha”. O material estabelece procedimentos e dá dicas de manejo para êxito na produção consorciada. Dentre elas, adquirir sementes com garantia de germinação e com alto percentual de pureza, para evitar a contaminação da lavoura com plantas indesejáveis; semear com profundidade de 2 a 4 cm, onde ocorra a melhor germinação e realizar o controle das pragas iniciais, principalmente lagartas, que reduzem a população da forrageira. Clique aqui e saiba mais.
Se você quiser assistir a um vídeo sobre o assunto, também é possível, confira no vídeo do Consórcio Milho‑Braquiária. Acesse aqui.
Christiane Congro Comas (Mtb-SC 00825/9 JP)
Embrapa Agropecuária Oeste
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