Campo Grande (MS) – Situada na região norte, há 13 quilômetros do centro da Capital, a aldeia urbana Água Bonita abriga 198 famílias de cinco etnias diferentes (Terena, Guarani, Kawioá, Kadiwiéu e Guató). Contudo, as peculiaridades e riquezas do local não se restringem apenas ao convívio harmônico de cinco povos.
Quem conhece o local mesmo que somente por nome, não imagina que a poucos minutos do centro, a aldeia possa guardar outras particularidades, como a primeira horta de folhosas do Brasil cultivada por índios, conforme dados da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), da Prefeitura de Campo Grande e dos próprios indígenas.
“A horta já tem três anos e cada uma das 22 famílias cuida de uma área de mil metros quadrados. São 22 famílias e 22 hortas, ou seja, cada família tem o seu espaço e tira a sua renda a partir da sua produção. Hoje, é possível ter uma renda razoável com a horta, isso na alta temporada, de abril a outubro, de R$ 800 a R$ 1.200,00 por família”, detalhou o coordenador da horta Água Bonita, Alder Romeiro.
O espaço de seis hectares é considerado a primeira horta indígena de folhosas do Brasíl. Um projeto considerado pioneiro a nível nacional, uma vez que a cultura indígena é voltada ao cultivo de outros tipos de alimentos como: mandioca, maxixe, milho, feijão e batata-doce.
“O projeto é diferenciado por causa da própria cultura do povo indígena. A diferença é que na cultura indígena, eles não têm a tradição de cultivar hortaliças e sim grãos e leguminosas. Essa é a primeira horta indígena do País”, explicou a pedagoga e pesquisadora sobre o assunto, Margarida Gonçalves.
Encantando com o que viu, na manhã desta sexta-feira (14), o diretor-presidente da Agraer, Enelvo Felini, fez questão de percorrer parte da área de cultivo e conversou com alguns indígenas como a pequena produtora Zenilda Gonçalves. “É um trabalho muito bonito e que precisar ser mais e mais incentivado. A agricultura familiar quando levada a sério pode fazer maravilhas na vida do homem e da mulher do campo e, também, para o Estado”.
O projeto visa fortalecer a agricultura familiar entre as etnias indígenas e ao mesmo tempo ajusta-la as demandas do mercado local, sem que para isso seja preciso eliminar o cultivo de alimentos tradicionais. As mandiocas, por exemplo, dividem espaço com os canteiros de folhosas e, ainda, há espaço para a Área de Preservação Permanente (APP). A prova de que natureza, tradição e contemporaneidade podem conviver harmonicamente.
De acordo com Alder, coordenador da horta, o espaço surgiu com o apadrinhamento privado, em seguida houve uma parceria firmada pela prefeitura municipal de campo grande e, agora, a expectativa é melhorar a capacidade produtiva com a entrada da Agraer no projeto. “O primeiro de todos que está desde o começo é o Cristiano Silva que é um empresário. E, agora, com a chegada da Agraer a gente está aguardando os cursos como o cultivo de orgânicos, além da assistência técnica por parte da instituição”, disse.
Atualmente, a capacidade de produção da horta é de 2 mil toneladas ao ano. Boa parte dos alimentos é comercializada em feiras e mercados e o que não está apto para a venda é doado para creches e instituições filantrópicas. O espaço chama tanta à atenção que já recebeu visitantes ilustres, como um grupo técnico da ONU – Organização das Nações Unidas.
Também esteve presente na visita o empresário Cristiano Silva e a servidora da Agraer, Loreta Pereira, profissional que fará o acompanhamento das atividades da Agraer na área indígena. Na oportunidade, o diretor-presidente Enelvo Felini ainda esteve na Ceasa de Mato Grosso do Sul para conhecer as estufas e o trabalho da Casa da Semente situada nas dependências da própria Central.
Texto e fotos: Aline Lira