Foto: Alice Nagata/Embrapa
As perdas em produtividade causadas pela mosca-branca, revela a coordenadora da Comissão de Defesa Agrícola da Aprosoja, Roseli Giachini, chegam a quatro, cinco sacas por hectare, de acordo com relatos repassados por produtores. Ela comenta, ainda, que em regiões com maior índice de infestação da praga o número de aplicações chega a cinco ou seis. “Isso acaba elevando, inclusive, o custo de produção do produtor”.
A maior presença de mosca-branca está em lavouras que foram semeadas a partir de novembro. Giachini comenta ao Agro Olhar que várias estratégias estão sendo pensadas pelos produtores visando o controle da praga.
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A entomologista da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Lucia Vivan, explica que o clima mais chuvoso, bem como a concentração do plantio nessa safra, “fizeram com que grande parte da população (mosca branca) tenha ocorrido em áreas mais velhas, com isso, ocorrem menos perdas, no entanto, as áreas mais novas tendem a ter infestação maior e necessidade de mais aplicações para controle”.
Além da soja, a mosca-branca também é encontrada em culturas como algodão, feijão e até mesmo hortaliças, tomate e pimentas. Vivan comenta ainda que áreas com plantio de algodão e feijão apresentam pressão maior da praga, por ela se desenvolver nessas culturas também.
“Nesses casos, as populações que podem não ter trazido perdas para a soja, devido ao período de maior infestação, podem ser para essas culturas, que necessitarão de aplicações sequenciais para controle de adultos, também com produtos específicos para quebrar o ciclo do inseto”, diz a especialista.
O período de entressafra da soja é considerado uma forma de controle, não apenas para a ferrugem asiática, mas também como outras pragas e doenças. Contudo, a entomologista da Fundação MT observa que no caso da mosca-branca por ela possuir um grande número de plantas hospedeiras seu controle acaba por ser prejudicado. “O mais importante é manter a população baixa na cultura da soja, que é onde ela inicia seu ciclo, pois, geralmente no início da germinação da soja não se têm problemas de mosca branca. O controle mau feito faz com que esse inseto aumente a população e depois migre para as outras culturas hospedeiras”.
Aplicações
Tanto Roseli Giachini quanto Lucia Vivan afirmam que os produtos específicos para a mosca-branca têm um alto valor agregado no custo de produção. Vivan destaca que “é importante o produtor, ou melhor, toda a região com o problema realizar o manejo de adultos nos primeiros focos e fazer um controle específico para ninfas com populações iniciais. Com isso, evita-se que ocorram os surtos. Existem produtos para manejo, mas é importante estar atento ao crescimento populacional”.
Empresas de biotecnologia ressaltam que alinhado aos produtos específicos ao combate à mosca-branca há ainda o manejo integrado de pragas, como pontua o gerente de marketing Território Norte – Mato Grosso e Bahia da Basf, Alexandre Kurosaki.
Veneno de aranha vírus da própria mosca-branca
Recentemente a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Hortaliças divulgou que cientistas trabalham no desenvolvimento de uma nova estratégia de controle específico de mosca-branca explorando o uso de uma proteína artificial com ação inseticida, que poderá ser uma “poderosa” ferramenta de controle da praga.
A proteína em questão é formulada a partir da fusão da proteína da capa proteíca (CP) do begomovírus, microrganismo transmitido pela própria mosca-branca, com uma molécula tóxica isolada do veneno de aranhas.
A Embrapa Hortaliças salienta que a ingestão apenas da mólecula tóxica pela mosca-branca não surte efeito, pois “uma vez no trato digestivo, ela é excretada pelo inseto antes de atingir a hemolinfa”. A entidade de pesquisa, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pontua ainda que “É exatamente nesse ponto que entra a CP do vírus para atuar como um cavalo de Troia e permitir que o veneno alcance seu destino”.
O biólogo Erich Nakasu, analista de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Hortaliças (DF), afirma que o maior desafio dos cientistas com o desenvolvimento dessa nova estratégia de controle específico da mosca-branca “não é sintetizar a proteína de fusão, mas sim garantir que a proteína tóxica seja produzida em conjunto com a capa proteica viral, e que se mantenha protegida dentro do corpo do inseto contra seus mecanismos naturais de defesa para, então, chegar ao sítio de ação em condição de expressar o efeito tóxico, provocando a morte do inseto”.
Nakasu revela que “Há duas possibilidades delineadas para conseguir o efeito tóxico: desenvolver uma planta que expresse a proteína de fusão, sendo a fonte do produto tóxico, ou alimentar o inseto com uma dieta artificial”.