Estudo comparou dados de sistemas integrados e convencionais
A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) já é definida como agropecuária sustentável há alguns anos. Quando o sistema começou a ser implementado em diversas propriedades com o auxílio da Embrapa, ainda havia diversas dúvidas sobre suas modalidades e viabilidade de implementação. Com o tempo, aqueles proprietários que se “arriscaram” começaram a colher os frutos dos benefícios provenientes dos sistemas integrados; recuperaram os solos de suas propriedades, aumentando sua produtividade – e com menos vulnerabilidade à ocorrência de doenças e pragas. Em pouco tempo esses empreendedores rurais tornaram-se casos de sucesso, como a Fazenda Santa Brígida (FSB), localizada em Ipameri (GO). Juntamente com a Embrapa e empresas privadas, tais empreendedores promovem disseminação do conhecimento adquirido.
Este tema vem sendo tratado pelo governo brasileiro desde 2012, quando lançou o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono. No mesmo ano houve a criação de parceria-público-privada entre Embrapa e empresas privadas que criaram a Rede de Fomento em ILPF, visando levar informações e tecnologias do sistema ILPF aos produtores rurais. Em 2013 teve lugar a instituição, na forma de lei, da Política Nacional de ILPF (Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). Desde então o tema não parou de ser discutido, fazendo parte dos compromissos internacionais do governo brasileiro na meta de redução de emissões de carbono. Compromisso ratificado pelo governo brasileiro, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro de 2015. Na ocasião, foram anunciadas as metas de redução nas emissões de gases de efeito estufa em 37%, até 2025. Para 2030, o governo pretende uma redução de 43%. Estas metas foram levadas à Conferência do Clima em Paris, a COP-21, em dezembro passado.
Agora, além dos entraves da adoção do sistema há uma nova discussão que visa compreender qual o real potencial de ganho em sustentabilidade dos sistemas integrados. Um estudo recém-finalizado analisou a sustentabilidade agrícola de sistemas integrados e convencionais, utilizando o conceito de Avaliação do Ciclo de Vida, que avalia os impactos dos processos/sistemas produtivos desde a extração dos recursos naturais, a fabricação das matérias primas, a distribuição, a utilização destes na fazenda, atividades de suporte, como logística e transporte, até os produtos finais serem colhidos.
Foram comparados diferentes arranjos produtivos (integrados e não integrados), com o objetivo de produzir soja, milho, sorgo, carne e madeira (biomassa para energia), em quantidades suficientes para atender as necessidades médias de uma população de 500 pessoas no Brasil, durante o período de sete anos. Contabilizados também os aspectos econômicos (custo total de produção), aspectos sociais (impacto nos trabalhadores diretos, comunidade local e nacional e incentivo às gerações futuras) e os impactos ambientais (não somente em termos de emissões de carbono, mas também consumo de energia, água, recursos abióticos, emissões de poluentes, entre outros). O estudo ressaltou ganhos em diversos indicadores analisados.
Em relação aos indicadores de impacto ambiental, a priorização da ILPF representa uma necessidade de seis vezes menos área direta (área prioritariamente integrada utiliza 69 hectares, o arranjo tradicional 419), reduzindo em 84% o impacto à biodiversidade devido ao uso do solo. Com relação às emissões de carbono equivalente, as reduções são de aproximadamente 2.390 toneladas, ou seja, 55%, sem considerar o sequestro e incorporação de matéria orgânica no solo. Isto significa que, se consideradas estas variáveis, os resultados em redução de emissões de carbono à atmosfera serão ainda maiores.
Sempre seguindo a lógica do ciclo de vida, nos indicadores ambientais também estão considerados os impactos referentes à vida da vaca, matriz para geração de bezerros. O indicador de impacto resíduos sólidos também é expressivo, apontando uma redução de 58%, ou seja, 321 mil toneladas; a redução de consumo de água gira em torno de 20%. A demanda acumulada de energia também é menor nos arranjos mais integrados, da ordem de 59% – o que representa economia de 8,96 milhões de Mega Joules. O único indicador que mostrou-se preocupante quando a ILPF é priorizada foi a escassez de recursos abióticos, principalmente atribuída a utilização de zinco, micronutriente da cadeia alimentar do gado.
Os ganhos sociais são notáveis na fazenda. O funcionário trabalha durante o ano todo e lida com diversas culturas, atividades de pecuária e de floresta. Dessa forma, a promoção de treinamentos e capacitações que os habilitem para exercer suas funções é sete vezes maior que o observado nos sistemas tradicionais. Além disto, os empregos são duas vezes mais qualificados. Também há incentivos à inclusão de trainees e estagiários na grade de colaboradores e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Todos esses ganhos são aliados a uma redução de 54% nos custos totais de produção.
Logo, é possível dizer que, quando priorizada a adoção de ILPF seguida de ILP, mais socioecoeficiente é o arranjo produtivo. Esses sistemas de Integração Lavoura Pecuária (ILP) e Floresta (ILPF) representam uma intensificação da produção de maneira sustentável. Adicionalmente, consistem em uma oportunidade de contribuir para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro, alinhada à crescente demanda mundial por alimentos e energia e aos comprometimentos do governo federal em reduzir emissões sem abertura de novas áreas, minimizando o desmatamento. Considerando o escopo e objetivo analisado, Sim, a agricultura que prioriza integração é de fato mais sustentável do que as tradicionais.
Marcela Porto Costa, Mestre em Ciências Ambientais pela Unesp Sorocaba. E Sueli Oliveira, consultora em Socioecoeficiência da Fundação Espaço ECO.