O grupo tem uma área plantada de 50 mil hectares e mantém irrigação plena em 7 mil hectares. “No restante, fazemos a irrigação de salvação”, diz. A explicação para não irrigar plenamente a plantação, que é 100% própria, é o custo. “É uma questão matemática. As contas precisam fechar. Tivemos períodos de maiores e de menores resultados, mas deu certo: a irrigação e a fertiirrigação nos trouxeram mais alegrias do que tristezas.”
A produtividade média das duas unidades está em 95 toneladas por hectare. Sem a irrigação, seria de 75 toneladas por hectare, calcula o empresário. Mas, para Otávio Lage, a produtividade nem é o mais importante. “Com a irrigação ganhamos pelo menos mais um ano para a renovação de canaviais.”
O Jalles Machado, está operando com 100% de sua capacidade e teve um faturamento de R$ 600 milhões em 2014 e projeta R$ 50 milhões a mais para o ano-safra que se encerra em março de 2016. Lage comemora os bons resultados do último mês, defende a irrigação, mas afirma que a empresa não tem planos de novos investimentos. “É difícil fazer planos sem saber se o setor tem real importância na matriz energética pensada pelo governo”, justifica.
Ricardo Pinto, tesoureiro do GIFC e diretor da RPA Consultoria, disse que a nova configuração de preços anima os produtores e abre a possibilidade de o setor recuperar pelo menos parte das perdas registradas nos últimos cinco anos. “Esse ganho de 30% abre a possibilidade de novos investimentos no segundo semestre de 2016 e em 2017”.
A irrigação, segundo Ricardo Pinto, entra com grande peso na equação porque, além do endividamento do setor nos últimos anos, os produtores precisam recuperar as perdas advindas da mecanização, que prejudica de 3 a 4% das plantas por corte e ainda deixa até 4% da colheita no campo, o que não ocorria no corte manual.
“A média com corte manual era de 86 toneladas por hectare na safra 2009/2010. Hoje, está chegando a 80. Para alcançar 100 em cinco anos e tornar o negócio seguro contra crises, só com irrigação.”
No Brasil, apenas 12% da cana é irrigada, com destaque para os canaviais do Nordeste. Nos outros grandes produtores mundiais, a média é de 30%, segundo o consultor. As usinas brasileiras têm potencial para irrigar cerca de 1,5 milhão de hectares de cana. Com um custo médio de R$ 4 mil cada hectare, seria necessário investir cerca de R$ 6 bilhões para tornar isso uma realidade.
“Mas, pensar irrigação sem trabalhar os outros aspectos como a nutrição das plantas não é eficaz”, esclarece Ricardo Pinto. E acrescenta que o setor ainda precisa derrubar o mito de que irrigação é só para o plantio de alimentos. “Infelizmente, isso ainda dificulta a liberação de outorgas para a cana.”
Planejando a distribuição da irrigação
Para o engenheiro civil Mário Cicareli Pinheiro, da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor da Potamos Engenharia e Hidrologia, planejar a distribuição da irrigação é fundamental para garantir o sucesso de qualquer projeto. Ele usou como parâmetro o sucesso da irrigação nos Estados Unidos, que tem 26 milhões de hectares irrigados contra os 6 milhões brasileiros (estimativa da ANA- Agência Nacional de Águas).
O engenheiro agrônomo Ademário Araújo, gerente de Agricultura Sênior do Grupo Terracal Alimentos e Energia, concordou com o colega que o planejamento é fundamental e deixou a dica para os participantes do seminário: “Gastem tempo nos estudos básicos para a implantação da irrigação. Isso vai fazer toda a diferença e não depende dos órgãos de outorga de água ou de outros fatores externos. Depende dos projetos técnicos elaborados por vocês.”
Além da questão das outorgas de água, outra preocupação na questão da irrigação é a necessidade de planejamento energético. “Para irrigar os 50 milhões de hectares irrigáveis do Brasil seria necessário construir duas Itaipus”, estimou Cicareli.
Nesta quinta-feira (29/10), o seminário aborda técnicas para fazer da cana irrigada uma produtora de água em tempos de crise hídrica, analisa o uso da vinhaça e apresenta casos de sucesso de empresas do setor.
Participam também do encontro representantes do Grupo Clealco, ESALQ, UFMG, UNESP, APTA – Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio, IAC – Instituto Agronômico de Campinas, ANA, CENBIO – Centro Nacional de Referência em Biomassa, Embrapa e Bayer CropScience.
Eliane Silva, novacana.com