O resultado, divulgado na revista Archives of Virology, publicação oficial da União Internacional da Sociedade de Microbiologia, foi obtido pelos pesquisadores Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), e Eduardo Chumbinho de Andrade, da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), e pelo analista Emanuel Abreu do mesmo centro de pesquisa do DF.
“O Brasil é o maior exportador mundial de mamão e o segundo maior produtor, atrás apenas da Índia. Mas, para manter essa posição, é premente conter o avanço e os danos causados por esse vírus (Papaya Sticky Disease Virus – PSDV)”, explica Emanuel Abreu. A meleira apresenta sintomas nos ápices e nas nervuras das folhas novas, além de uma abundante exsudação (migração de líquido para a parte exterior da planta) de látex mais fluido nos frutos dando-lhes um aspecto borrado. Quando atacada pelo vírus, o único destino da planta é a morte.
Dentre as soluções utilizadas pelos produtores para controlar a meleira destacam-se a prática do “Roguing” – eliminação da planta quando ainda está nos estágios iniciais da disseminação do vírus e o uso de variedades com produção precoce aliada ao uso de inseticidas para controlar os insetos transmissores da doença. “Mas são ações paliativas, que não resolvem o problema,” ressalta Francisco Aragão.
“Um dos principais obstáculos é que estávamos lidando com um inimigo desconhecido, cuja classificação taxonômica ainda não existe oficialmente. Além disso, não sabemos, ao certo, quais insetos estão diretamente envolvidos na sua transmissão”, complementa.
Sequenciamento do genoma vai responder a essas perguntas
O sequenciamento do genoma vai ajudar a responder a muitas questões importantes, como a classificação do vírus e a identificação dos insetos transmissores, além de apontar soluções mais efetivas para seu controle.
Os cientistas envolvidos na pesquisa utilizaram uma nova ferramenta de sequenciamento, a “Next Generation Sequence”, que tem elevada capacidade de gerar informações do genoma dos organismos com dados bastante robustos e confiáveis.
Com o genoma concluído, a criação de kits de diagnóstico para identificação precoce da doença é uma das tendências da pesquisa. “A Embrapa pode iniciar o desenvolvimento de um produto pré-tecnológico, por exemplo, que seria finalizado e comercializado por uma empresa privada”, salienta Emanuel, referindo-se a um kit-diagnóstico.
A expectativa é que a descoberta leve a impactos positivos na pesquisa da cultura do mamoeiro no País. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, o Brasil produziu 1.517.696 toneladas de mamão. A Bahia e o Espírito Santo destacam-se como os dois maiores estados produtores e exportadores, sendo responsáveis por 70% da produção nacional.
“Esses dois estados são os mais afetados com a incidência dessa doença, em alguns casos, provocando perdas de milhões de reais com a redução da produtividade e de áreas com a cultura, podendo chegar à destruição total das plantações afetadas, com uso intensivo de agroquímicos e mudança constante de zonas produtoras, tornando o sistema de produção cada vez mais oneroso”, afirma Emanuel.
Plantas resistentes ao vírus já estão sendo desenvolvidas
Um dos resultados do sequenciamento do genoma já está em pleno desenvolvimento nos laboratórios da Embrapa. Estão sendo geradas plantas geneticamente modificadas para resistência ao vírus-da-meleira e da mancha-anelar a partir de uma tecnologia denominada RNA interferente (RNAi). Essa técnica consiste em expressar, nas plantas de mamão, pequenos fragmentos de RNA capazes de silenciar os genes virais, assim como uma “vacina”, explica o pesquisador Francisco Aragão.
Plantas transgênicas de mamão com resistência a viroses vêm sendo utilizadas com sucesso nos Estados Unidos desde 1998, especialmente no Havaí e na Flórida. Hoje, ocupam cerca de 80% da área plantada com mamão naqueles países.