Segundo o Cepea, já foram encontrados 29 casos nas lavouras gaúchas
Mais uma consequência do excesso de chuvas observado nos últimos meses, a ferrugem asiática está aparecendo mais frequentemente nas lavouras de soja do Rio Grande do Sul, exigindo atenção dos agricultores. Relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, divulgado na semana passada, mostrou que o Estado tem o maior número de casos da doença na cultura da oleaginosa na safra que está sendo implantada, com 29 dos 66 focos constatados em todo o Brasil. Em comparação, até o fim de novembro do ano passado, eram 44 focos em território nacional, sendo 17 deles nas plantações gaúchas.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Soja Cláudia Vieira Godoy, os problemas começaram ainda no inverno. Por ocasião dos efeitos do El Niño, as temperaturas mais amenas no período favoreceram a sobrevivência de soja voluntária com ferrugem no campo, o que tem contribuído para a maior ocorrência da doença em 2015. “O que observamos na região Sul, onde a média de chuvas tende a ser maior, é que a ferrugem pode aparecer de forma mais agressiva. Além disso, em anos com essas características climáticas, ela tende a aparecer antes nas lavouras ainda em novembro. Em anos normais, os focos aparecem apenas a partir de dezembro”, explica.
Outro fator que deve impactar a propagação da doença é o atraso no plantio. Segundo dados da Emater, no fim da última semana, o percentual da área semeada era de 58%, alguns pontos abaixo da média histórica registrada nos últimos cinco anos, de 65% para a época. “Se as chuvas continuarem, a janela de plantio deve ser ampliada. Ou seja, vamos ter soja sendo semeada em várias épocas, o que favorece o ataque de ferrugem a lavouras tardias”, alerta Cláudia. Outro contágio fúngico que pode se tornar comum nessas condições, conforme a Embrapa, é o mofo branco.
Entretanto, realizados o monitoramento e o controle, os problemas não devem ocasionar grandes perdas de produtividade para a cultura da soja. A recomendação das entidades de assistência rural é que os produtores fiquem atentos não somente a sua lavoura, mas à ocorrência de focos na sua região. Atualmente, o Consórcio Antiferrugem registra casos, principalmente, nas regiões Norte e Noroeste do Rio Grande do Sul, em cidades como Passo Fundo, Erechim, Ijuí, Cruz Alta e Júlio de Castilhos. Na região Sul, Capão do Leão tem um foco, assim como no município de Itaqui, no Oeste do Estado, entre outros.
“Além de verificar se os cultivares têm resistência, os agricultores devem verificar as informações sobre a eficiência dos fungicidas aplicados, pois os fungos estão se adaptando aos produtos e, consequentemente, a eficiência do controle diminuindo”, pondera Cláudia. Como uma das estratégias anti-resistência, o produtor pode fazer rotação de produtos. Nesse sentido, a Embrapa Soja coordena uma rede de ensaios de fungicidas, e os resultados são disponibilizados anualmente na página da entidade na internet, onde é possível verificar a eficiência na última safra.
Reunião de comitê debate amanhã as dificuldades de controle da doença no Rio Grande do Sul
Amanhã, a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) e a Superintendência do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul (Mapa-RS) irão promover reunião técnica sobre as dificuldades de controle da ferrugem asiática da soja no Estado. Irão participar do encontro os membros do Comitê Estadual de Ferrugem Asiática da Soja, representantes de 20 instituições, as quais representam os principais entes envolvidos na cadeia produtiva da soja.
O comitê foi estabelecido pelo Mapa-RS em 2007, visando num primeiro momento discutir a necessidade da adoção do vazio sanitário. A Instrução Normativa nº 02/2007 do Mapa prevê a adoção de um calendário oficial em cada unidade da federação, estabelecendo o período de cultivo da soja, com um período de pelo menos 60 dias sem a cultura e sem plantas voluntárias no campo, conhecido como vazio sanitário.
A ampliação da área de cultivo de safrinha e a presença de plantas voluntárias (aquelas que crescem de sementes derrubadas) na entressafra têm causado o aumento da pressão de inóculo da doença e dificultado o seu controle nos estados produtores de soja.
Jornal do Comércio