Vocês sabem qual é a definição de “chato”? Chato é o indivíduo excessivamente pessimista, que vê erro em tudo, vive se lamentando e insiste em ser o dono da verdade. Numa época de crises no Brasil e no mundo, os autênticos chatos se entusiasmam diante do campo aberto para espalhar suas teses derrotistas. É verdade que os otimistas em exagero, amigos do marketing e das manipulações, também são chatos. Mas seria muito bom se as pessoas conseguissem equilibrar essas duas tendências por meio de um estilo de realismo atento às notícias do dia a dia.
Impossível ignorar previsões negativas por parte de especialistas nas suas respectivas áreas. No entanto, alguns arautos do apocalipse acabam falhando: um exemplo é a crise no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo, decorrente da maior estiagem ocorrida na região em pelo menos 80 anos. Dois anos atrás, havia quem garantisse que o Sistema Cantareira jamais voltaria à normalidade. Por conta de duas temporadas de verão de poucas chuvas, houve a necessidade de o Cantareira buscar socorro no volume morto, enquanto o Governo do Estado providenciava obras de emergência. As obras ficaram prontas, as chuvas voltaram, e os números mostram um contraste: um ano atrás, aquele sistema de represas ainda estava abaixo de zero e era salvo pelo volume morto, mas, na virada de 2016 para 2017, o índice do Cantareira chegou a 46,1%, sem necessidade de apelar para o volume morto. Com base nesse alívio, o Governo de São Paulo e o Ministério da Integração Nacional anunciaram o convênio para o empréstimo das bombas da crise do Cantareira para serem usadas na Transposição do Rio São Francisco e facilitarem a chegada de água a Campina Grande e a outros municípios da Paraíba que sofrem prolongada seca.
A solidariedade paulista, porém, não é a única notícia positiva deste início de 2017. Em 2 de janeiro, foram divulgados dados importantes da economia do país. A balança comercial brasileira, por conta da crise econômica, registrou em 2016 uma grande queda nas importações, mas houve um lado otimista: as exportações foram mais altas que as importações e garantiram um superávit de US$ 47,69 bilhões. E, mais uma vez, a exemplo de anos anteriores, a agropecuária foi responsável por expressiva parcela do PIB nacional e da venda de produtos para o exterior, assegurando dólares de enorme importância para o Brasil.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou que terminou 2016 com avanços expressivos para o agronegócio brasileiro. Entre os principais, estão a desburocratização, a abertura e ampliação de mercados, o fortalecimento da política de sanidade agropecuária, a modernização do seguro rural, a expansão das ações de sustentabilidade ambiental e a transparência no diálogo com o setor rural. No comércio exterior, o ano passado possibilitou a conclusão do acordo para abertura do mercado dos Estados Unidos à carne bovina in natura brasileira. O ano foi marcado também pelo lançamento do plano voltado à desburocratização das normas e dos procedimentos do Ministério da Agricultura por maior agilidade nas exportações e para reforçar a eficiência no atendimento à cadeia produtiva agropecuária.
O ministro Blairo Maggi, que assumiu o cargo em maio, logo após a chegada de Michel Temer à Presidência da República, fez uma série de viagens ao exterior em 2016 e disse que foi possível fechar acordos pela abertura de novos mercados na Europa, Ásia e Américas: “Entre outras conquistas, tivemos a felicidade de fechar o acordo para exportar carne bovina in natura para os Estados Unidos”.
O Ministério da Agricultura promoveu 22 missões de alto nível à Europa, ao Oriente Médio e ao Sudeste Asiático. A maior delas, no segundo semestre, incluiu China, Índia, Coreia do Sul, Myanmar, Malásia, Tailândia, Vietnã e Dubai. Outras importantes negociações foram feitas durante visitas à Itália, Rússia, Inglaterra, Suíça, Armênia, a Israel e ao Japão.
A certeza de que o Brasil evoluiu no controle e na proteção da saúde animal contribuiu para o sucesso nos acordos. A conclusão da negociação com os Estados Unidos, que já durava 17 anos, foi oficializada em agosto, em cerimônia no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Michel Temer, do ministro das Relações Exteriores, José Serra, e da embaixadora dos EUA no Brasil, Liliana Ayalde. Na ocasião, houve troca das Cartas de Reconhecimento de Equivalência dos Controles de Carne Bovina, por meio das quais os dois países liberaram o comércio do produto. Com isso, tanto o Brasil pode vender carne in natura para os norte-americanos quanto eles podem exportar o produto para o mercado brasileiro. No segundo semestre, frigoríficos brasileiros já fizeram embarques para aquele mercado.
Segundo Maggi, a conclusão do acordo com os Estados Unidos – maiores produtores e consumidores mundiais de carne bovina in natura – representa não apenas o reconhecimento da qualidade e da segurança sanitária dos produtos brasileiros: surge como uma espécie de passaporte para abrir outros mercados, porque os americanos estão entre os mais exigentes compradores de carne bovina in natura do mundo.
Além do comércio de produtos como carnes bovina, de aves e suína, lácteos, gado vivo, material genético, frutas e matéria-prima para ração, as missões tiveram como objetivo atrair investimentos e estabelecer cooperação científica. Com a Índia, por exemplo, o Brasil garantiu US$ 400 milhões para a instalação de uma fábrica de agroquímicos por aqui e US$ 100 mil para pesquisa com leguminosas (lentilhas e grão de bico), por meio de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Essas missões fazem parte da estratégia do Mapa de elevar de 6,9% para 10% a participação do Brasil no comércio agrícola mundial em cinco anos. Assim, o país quer expandir a base exportadora com a diversificação de produtos e de mercados e aumentar os embarques de mercadorias de maior valor agregado. De janeiro a novembro de 2016, as exportações agrícolas brasileiras somaram US$ 66,7 bilhões. Do total, 71,9% corresponderam a vendas dos complexos soja, sucroalcooleiro e carnes.
Quando se deseja um Feliz 2017, não se pensa só na esperança de o Brasil atenuar as sequelas de sua grave crise econômica: existem dados concretos, mostrando que a carne cumpre sua parte. Não há chato capaz de afastar essa ideia.
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Luiz Carlos Ramos, de São Paulo, desenvolve uma carreira jornalística que completou 52 anos em 2016, com multiplicidade de tipos de mídia e com ampla variedade de temas, além de acumular 27 anos como professor de Jornalismo na PUC-SP. Tornou-se colaborador da CarneTec para escrever crônicas em torno de curiosidades sobre a carne. Nestes textos, ele aplica o conhecimento adquirido em coberturas sobre agropecuária para jornais e revistas em oito países e em sete estados do Brasil.