As chuvas tendem a ficar mais escassas a partir de maio e abril, e as lavouras semeadas em março correm maior risco de estresse hídrico na fase de floração. | |
Mesmo após o encerramento da janela ideal de plantio da segunda safra de milho nas principais regiões produtoras, agricultores ainda não terminaram a semeadura do cereal. A exemplo do que ocorreu no ano passado, parte do plantio da safra de inverno, também chamada de safrinha, ocorrerá fora do melhor período, deixando as lavouras mais tardias expostas a maior risco climático. No Centro-Oeste, principal região produtora do cereal, as chuvas tendem a ficar mais escassas a partir de abril e as áreas semeadas a partir de março podem sofrer com a falta de umidade no período de enchimento de grãos. No Paraná, outro importante Estado produtor de milho safrinha, o temor é com o risco de frio excessivo e geadas. Mas mesmo com maior risco climático, fontes ouvidas pelo Broadcast Agro (serviço de notícias em tempo real da Agência Estado) não acreditam na redução de área da segunda safra. A ideia é de que, com sementes e insumos comprados, os produtores não devem deixar de plantar. Além disso, a forte valorização dos preços do milho no início deste ano deve estimular a produção do cereal. “O produtor olha o preço que está sendo pago pelo milho hoje, e atualmente, só deve deixar de plantar se estiver muito atrasado mesmo”, afirmou a analista Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone. Segundo ela, as estimativas de safra já consideravam que parte da área seria semeada fora do período ideal e não houve atrasos mais significativos que os previstos. Para o diretor Técnico da Aprosoja-MT, Luiz Nery Ribas, não há expectativa de redução da área, pois “quem já se programou para plantar já fez a aquisição de sementes, e tivemos um tempo muito bom para o plantio na primeira semana de março, quando ainda havia risco climático relativamente pequeno”. Na última semana, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) elevou mais uma vez sua estimativa de área de milho segunda safra e agora considera que serão cultivados 9,72 milhões de hectares com o cereal, 1,8% a mais que no ciclo anterior. A colheita deve somar 55,28 milhões de toneladas (+1,3%). De acordo com o sexto levantamento de safra de grãos, “vários fatores ajudariam a explicar um forte incremento da área plantada, relacionados aos baixos níveis dos estoques, tanto privado como governamental, à entressafra nacional, à demanda nordestina acentuada pela falta de chuvas na região e aos reflexos desta situação nos preços domésticos”. No entanto, os técnicos da estatal comentam que a decisão de plantio em Mato Grosso ainda depende do comportamento do clima nas próximas semanas, que “tem gerado entre os produtores uma forte indecisão sobre o momento apropriado para o plantio do cereal”. Com relação ao Paraná, o relatório aponta que “a previsão meteorológica de mais chuvas e geadas gerou a redução do potencial produtivo em 3,5% no Estado em relação ao levantamento anterior”. “Em algumas áreas do médio norte de Mato Grosso, por exemplo, alguns produtores que plantaram soja muito cedo tiveram grande prejuízo por causa da seca, e como a segunda safra deve remunerar bem, esse agricultor deve apostar no milho”, explicou o pesquisador Mauro Osaki, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). “O milho é a chance que esse produtor tem para entrar na safra 2016/2017 em uma situação financeira mais favorável.” Agora, o que preocupa o mercado com relação à oferta é o clima. Como as chuvas tendem a ficar mais escassas a partir de maio e abril, as lavouras semeadas em março correm maior risco de estresse hídrico na fase de floração. No Centro-Oeste, o plantio está pouco mais avançado que o relatado no ano passado quando, mesmo com o atraso, a safrinha 2015 superou as expectativas e teve produtividades elevadas, em virtude do prolongamento do período chuvoso. “Ano passado, mesmo quem plantou depois teve produtividade muito boa, porque não faltou chuva no período de floração”, observou Nery Ribas. A torcida dos produtores é para que essa situação climática anormal se repita nesse ano, “mas historicamente isso não é a regra, as lavouras semeadas a partir de março têm um risco de frustração pelo corte de chuvas”, alertou Ribas. Em Mato Grosso, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), 65,3% da área estimada foi plantada até o fim de fevereiro, deixando 35% por plantar fora da janela. No ano passado, 64,2% das lavouras foram plantadas dentro da janela. Mauro Osaki, do Cepea, lembrou que no ano passado, houve casos inclusive de produtores que plantaram mais tarde e produziram melhor que aqueles que semearam o milho no período ideal. Mas segundo ele, os modelos climáticos não sugerem uma condição tão favorável neste ano. “Se tivermos boas chuvas até maio e abril, garantimos a safra, pelo menos para que o setor tenha oferta suficiente para o mercado doméstico”, disse Osaki. Ana Luiza, da INTL FCStone, concordou que é difícil ter um clima tão favorável quanto no ano passado, quando parte das chuvas esteve ligada ao fenômeno climático EL Niño, que eleva as temperaturas no Centro-Oeste. A analista comentou, ainda, que no Sul do País, a preocupação é com o frio excessivo. “Mas tem chovido bastante, o que é bom para o milho que já foi plantado. Até 29 de fevereiro, o plantio alcançava 70% da área no Paraná, nos anos anteriores, o plantio só estava na metade”, concluiu. |
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(Revista Globo Rural) (Redação) |