As mudanças climáticas, assunto que está na pauta de discussões nos últimos 30 anos, tomam cada vez mais a atenção dos especialistas no setor agropecuário, devido às previsões nada otimistas para o futuro. Recente estudo do Banco Mundial aponta a elevação média de temperatura superior a 2°C até 2050, o que promoverá a redução do potencial de irrigação, aumento da aridez do solo e maior incidência de pragas e doenças.
Ainda de acordo com o estudo do Banco Mundial, existe a possibilidade de perda de solo com elevado potencial agrícola em duas regiões. No Centro-Oeste e no Nordeste, a substituição de pastagens pelo cultivo de grãos e cana-de-açúcar poderia compensar a estimativa de perda de cerca da metade das terras cultiváveis e, especialmente, da produção de grãos no Sul.
![“Uma planta tolerante ao calor passa dez anos em fase experimental, com investimento de um milhão de dólares ao ano”, afirma Hilton Silveira Pinto, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri). Foto: Divulgação](http://sna.agr.br/wp-content/uploads/Hilton-Silveira-Pinto_Cepagri-640x427.jpg)
“Uma planta tolerante ao calor passa dez anos em fase experimental, com investimento de um milhão de dólares ao ano”, informa Hilton Silveira Pinto, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri). Foto: Divulgação
Para conter esses impactos, estudiosos de diversas entidades nacionais ligadas ao clima, meio ambiente e agricultura têm proposto medidas que direcionam ao controle do desmatamento, incentivo ao sistema de plantio direto, adoção de sistemas agroflorestais, arborização nos cafezais e melhoramento genético, entre outras.
PERDAS NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Hilton Silveira Pinto, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), participa de um grupo de análise das mudanças climáticas, responsável por projeções em 2002, 2008 e 2014, tendo como evolução das pesquisas o detalhamento das áreas de cultivo no Brasil. Segundo ele, esse cenário de grande desequilíbrio agrícola alerta para perdas na produção agrícola e até mesmo para a migração de culturas de uma região para outra.
Segundo Pinto, essas mudanças terão influência direta no desenvolvimento de plantas. “Com o aumento do calor, as plantas, de modo geral, tornam-se improdutivas, uma vez que temperaturas acima dos 33°C interferem na polinização e no florescimento. Uma tarde apenas, em fase de florescimento, pode alterar a produção”, analisa.
Em relação às precauções a serem tomadas pelos agricultores e também pela cadeia produtiva do setor para tentar minimizar os efeitos devastadores desse aumento de temperaturas, o pesquisador do Cepagri não tem uma receita certa, mas indica algumas opções. “Os agricultores não podem fazer nada a não ser buscar áreas com climas mais amenos, além de realizar o plantio em locais mais elevados; é o exemplo do café, mas isso implica realizar adaptação para a mecanização de culturas extensivas”, explica.
PROJETOS FUTUROS
De acordo com pesquisador do Cepagri, alguns estudos e projetos vêm sendo desenvolvidos para tentar minimizar os impactos dessas mudanças climáticas, porém, exigem investimentos consideráveis. “A solução mais viável é o desenvolvimento de cultivares mais tolerantes ao calor e à seca. No entanto, o resultado leva cerca de 10 anos para a produção de plantas melhoradas, ao custo estimado de 10 milhões de dólares, algo que pode inviabilizar esses projetos”, calcula.
Em sua opinião, esse custo preventivo é um problema sério, que depende de financiamento governamental. “Uma planta tolerante ao calor passa dez anos em fase experimental, com investimento de 1 milhão de dólares ao ano. Nesse período é feita a observação da semente e da muda para escolha da mais tolerante, e somente depois ser feita a multiplicação da planta”, arremata o pesquisador do Cepagri.
Por equipe SNA/SP