O arranjo espacial de plantas, ou seja, a forma como as plantas são dispostas na área, pode influenciar diretamente nos resultados de produtividade das lavouras. Esse arranjo é definido pela densidade de semeadura (plantas por hectare), pelo espaçamento entre as fileiras e pela uniformidade de distribuição de plantas dentro dessas fileiras. O uso de cultivares de soja com tipo indeterminado e com arquitetura compacta de plantas tem aumentado nos últimos anos, estimulando a avaliação de arranjos alternativos, como a semeadura cruzada, a fileira dupla e o espaçamento reduzido.
Estudos indicaram que o arranjo que apresenta melhor resultados para soja de crescimento indeterminado é o de espaçamento entre 40 e 50 cm de distância entre as linhas. Ainda assim, os pesquisadores alertam para o fato de que o arranjo vai depender da cultivar selecionada e da época de semeadura.
A pesquisa coordenada pela Embrapa Soja intitulada “Novos sistemas de semeadura e arranjos de plantas para aumento da produtividade e sustentabilidade da cultura da soja” já foi concluída e encontrou respostas para alguns dos modelos de arranjos produtivos de soja que estão sendo testados por produtores. A pesquisa foi realizada em todo o Brasil e contou com a participação de diversas Unidades da Embrapa, além de parceria com universidades do País.
O líder do projeto Alvadi Antônio Balbinot Junior, pesquisador da Embrapa Soja, explica que o arranjo pode alterar o crescimento da cultura, a incidência de estresses bióticos (plantas daninhas, insetos-praga e doenças) e abióticos (déficit hídrico, por exemplo), a qualidade das pulverizações, o acamamento e, consequentemente, a produtividade e qualidade dos grãos. Segundo ele, no Brasil, nas décadas de 1980 e 1990, foram conduzidos vários trabalhos com diferentes espaçamentos entre fileiras em soja. “Porém, após o ano 2000, poucas pesquisas foram conduzidas sobre esse assunto”, informa. Ele salienta ainda que esses trabalhos conduzidos há algumas décadas foram baseados em cultivares de soja com características distintas das utilizadas atualmente.
Assim, o pesquisador da Embrapa Soja destaca que os estudos sobre os arranjos espaciais das plantas são necessários e devem ser atualizados. “Estamos vivendo tempos em que as mudanças nas características morfofisiológicas das cultivares de soja e nas práticas de manejo são uma realidade. Além disso, temos um aumento da expectativa de produtividade de grãos, acompanhado de aumento do custo com sementes”, conta o especialista. Outro fator que justifica as pesquisas com espaçamentos, de acordo com o pesquisador, é a semeadura antecipada da soja, estratégia utilizada para reduzir a incidência de doenças e pragas no final do ciclo ou para semear o milho de segunda safra em sucessão à soja, o mais cedo possível.
“É importante considerar que o ajuste do espaçamento, fundamentado nas cultivares utilizadas e no ambiente de produção, pode conferir ganhos expressivos de produtividade, sem grandes alterações nos custos de produção e nos impactos ambientais decorrentes do cultivo da soja”, acrescenta Balbinot Junior.
O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rodrigo Arroyo Garcia, acrescenta que, na área de abrangência das pesquisas desenvolvidas pela Unidade, observam-se lavouras com formas inovadoras de arranjos, como a semeadura cruzada e espaçamento reduzido. “Modificar a forma de plantio, em alguns casos, pode conferir ganhos expressivos de produtividade, sem grandes alterações nos custos de produção e nos impactos ambientais decorrentes do cultivo. No entanto, esses resultados podem estar associados a outros fatores como as condições climáticas, proporcionando resultados diferentes de uma safra para outra”, disse ele.
Arroyo faz uma importante ressalva. “É interessante que o produtor faça testes em sua propriedade com arranjos de plantas, no entanto, muita cautela deve ser adotada, utilizando pequenas áreas para realizar esse tipo de teste. Esse é um papel da pesquisa, e a Embrapa está se dedicando para fazer isso, para que a recomendação seja a mais sólida possível, com grandes chances de ganhos de produtividade”, ressalta.
Criatividade em arranjos
Atualmente, uma nova modalidade de arranjo de plantas é o cultivo de soja com semeadura em “covas”, com sementes agrupadas, ou seja, o agricultor deposita de três a quatro sementes juntas, utilizando discos apropriados especialmente para essa finalidade. O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste explica que esse tipo de cultivo não é recomendado por enquanto, pois as pesquisas sobre essa forma de arranjo ainda estão sendo realizadas. “Não se sabe se esse modelo de implantação influenciará na fitossanidade da lavoura, seja de forma positiva ou negativa. Ou mesmo se o potencial produtivo será maior nessa forma de arranjo de plantas diferenciado. Porém, conforme as pesquisas vão sendo realizadas, devemos ter respostas seguras sobre esse formato de arranjo nas próximas safras”, informa o pesquisador.
Utilizada há algumas safras, a semeadura cruzada consiste na disposição das plantas de forma distinta. Em vez de plantar de forma linear, o cultivo é feito como se fosse um tabuleiro de xadrez, em que o produtor faz uma primeira passada da plantadeira e depois volta em sentido perpendicular. Esse tipo de plantio foi pesquisado pela Embrapa para avaliar a fitossanidade da lavoura, e os resultados mostraram que não houve alteração nesse item. “Em relação aos impactos na qualidade física do solo, a pesquisa observou impactos negativos consideráveis, visto que a máquina passa duas vezes no mesmo local, com maior chance de compactação do solo. Além disso, a viabilidade econômica foi bem inferior nesse tipo de arranjo”, acrescenta Arroyo.
Outros modelos de arranjos também foram pesquisados, como o espaçamento reduzido (20 a 30 cm entre fileiras). “Observamos que há maior dificuldade de manejo de algumas doenças e insetos-praga com a redução do espaçamento. Isso ocorre em razão do fechamento rápido das entrelinhas e da menor penetração da radiação solar e dos agrotóxicos em lavouras com espaçamento reduzido. Além disso, a redução do espaçamento na soja impossibilita o uso da mesma semeadora para o plantio do milho sem que haja necessidade de reposicionamento das linhas”, explica Balbinot Junior. Ele destaca ainda que, por outro lado, em alguns experimentos, ocorreram ganhos de produtividade com o uso do espaçamento reduzido. Esses resultados foram obtidos com o uso de cultivares com plantas baixas (altura inferior a 80 cm), com pouca ramificação e ciclo precoce (inferior a 110 dias entre a semeadura e a colheita).
Outro arranjo pesquisado é o denominado “fileira dupla”, que consiste em duas linhas espaçadas de 20 cm, seguido de um espaçamento de 60 cm, e retoma com duas linhas de 20 cm. “Acreditávamos que os resultados seriam interessantes, pois a fileira dupla permite trabalhar com uma população de plantas maior, sem problemas para fitossanidade e sem excesso de sombreamento. Mas observamos que nessa forma de arranjo o resultado favorável não foi observado em todas as lavouras nacionais, que os resultados variaram muito, dependendo das condições locais”, explica Arroyo.
Assim, o espaçamento ideal, de forma mais generalizada, seria o mais utilizado, com 45 a 50 cm de distância, com taxa de semeadura variável, dependendo da cultivar selecionada e da época de semeadura. “O produtor deve semear de acordo com as orientações fornecidas pelos obtentores da cultivar selecionada”, destaca Arroyo.
Soja de crescimento indeterminado
Arroyo explica que, no Brasil, o cultivo de soja de crescimento indeterminado começou a ter maior representatividade por volta dos últimos dez anos. “As cultivares comerciais desse tipo de variedade de soja vieram da Argentina e ganharam grande repercussão e expansão nas áreas de cultivo. Elas se adequaram muito em grandes regiões de produção de soja no Brasil, pois maior potencial de antecipação da semeadura da soja”, explica Arroyo. O pesquisador também destaca que a antecipação de semeadura deve ser adotada com cautela, pois não são todas as cultivares de crescimento indeterminado que toleram essa prática agrícola, o que pode resultar em plantas com porte pequeno e redução na produtividade.
Essas variedades de crescimento indeterminado que estão dominando o mercado apresentam grande potencial produtivo, além da inserção de diversas tecnologias. Além da produtividade, são bem mais precoces do que as cultivares mais antigas, com ciclos em torno de 100-120 dias em diversas regiões produtoras. No caso do Mato Grosso do Sul, a semeadura começa a partir de meados de setembro, com grande parte do milho safrinha sendo plantado no fim de janeiro e no mês de fevereiro, resultando em excelente potencial produtivo. “Quanto mais cedo o produtor fizer a semeadura do milho safrinha, menores são os riscos em relação a geadas e recursos hídricos”, explica Arroyo.
Cultivares indeterminadas ainda apresentam outras características distintas interessantes, explica o pesquisador. “Além da capacidade de crescimento após o início da fase reprodutiva. Parte dessas cultivares são menos engalhadoras, além de apresentarem menor área foliar no terço superior das plantas. Há considerável sobreposição das fases fenológicas, ou seja, em um determinado momento, a planta de soja está formando vagens, emitindo novas flores e expandindo novos trifólios, tudo ao mesmo tempo”.
Palestra
O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Rodrigo Arroyo Garcia vai falar sobre esse assunto no Dia de Campo que acontece na Cooperativa Lar, no dia 27 de janeiro, em Maracaju (MS).
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