Plantação de soja: crescimento do uso de fertilizantes no Brasil é o dobro da média mundial.
Um dos maiores produtores mundiais, o país importa 75% dos fertilizantes que usa, um risco para a manutenção das safras, na visão de especialistas
“Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”, escreveu Pero Vaz de Caminha, descrevendo a fertilidade da terra que se tornaria o Brasil. Caminha, infelizmente, pouco sabia de agricultura, e o ditado “em se plantando, tudo dá”, que hoje ecoa a impressão do visitante português, não passa de propaganda enganosa. Um olhar mais atento revela que a terra tupiniquim sofre com a falta de componentes essenciais para o desenvolvimento vegetal, e que seria necessário um jeitinho brasileiro para transformar esse vasto território em potência agrícola.
Hoje, o país registra uma safra anual de 209,5 milhões de toneladas, com crescimento de produção superando os 8% ao ano. Por trás desses números impressionantes, está um importante ingrediente, capaz de compensar a esterilidade da terra nacional: 28 milhões de toneladas de fertilizantes, quantidade usada em 2015, para nutrir leguminosas, frutas e grãos. O problema é que cerca de 75% desses insumos têm origem estrangeira. Conforme cresce a safra, sobem também os números que prendem um dos pilares da economia brasileira à importação.
A agricultura nacional posiciona o país na quarta posição entre os consumidores de fertilizantes, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos. Enquanto o consumo desses produtos aumenta, em média, 2% ao ano no mundo, o crescimento no Brasil é de 4%. De maneira inversa, a fabricação nacional tem caído nos últimos anos, abrindo espaço para a entrada de mais produtos importados. Essa dependência de nutrientes estrangeiros influencia diretamente no custo da lavoura e obriga os fazendeiros a incluírem a cotação do dólar na conta da produção da safra.
Sem uma política nacional para o setor, os produtores brasileiros têm poucas chances de conquistar a independência dos fertilizantes importados. “O preço ficou alto, e o governo zerou a alíquota da importação, o que estimulou a importação. Isso foi feito para proteger o agricultor, mas causou um problema: a retração ainda maior dos investimentos na produção nacional”, ressalta José Carlos Polidoro, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos.
Para Poliodoro, o problema dos fertilizantes é uma questão de segurança nacional. “Importamos mais de 90% do potássio que consumimos, e esse nutriente é muito exigido pela planta. Se algo acontecer na Rússia, por exemplo, o Brasil sofre um problema de abastecimento sério”, estima o especialista da Embrapa. “Esse é um país que depende da agricultura, e não produzir fertilizante é um erro estratégico grande.”
Além dos altíssimos investimentos necessários para o processo de mineração, fabricação e logística dos insumos de origem mineral, a produção nacional também esbarra na questão ambiental, pois a mineração pode comprometer áreas de grande importância. O consumo de potássio do país, por exemplo, poderia ser totalmente suprido se fosse explorada uma reserva do minério recém-descoberta no Brasil. O problema é a localização desse tesouro mineral: no coração da Amazônia, às margens do Rio Madeira. Embora não seja considerada inviável, a exploração da região exige extensos estudos de impacto ambiental.